João Paulo II: 17/10/1999

JOÃO PAULO II
ANGELUS

O “Sino da Paz”
Acolho com afecto os “Meninos albaneses embaixadores de paz”, com os missionários e os educadores, e é-me grato benzer o “Sino da Paz”, realizado com os cartuxos recolhidos na região albanesa da Zadrima, e que será colocado na praça central de Tirana no dia 1 de Janeiro de 2000.
Saúdo, além disso, os membros da associação “Giovane Montagna”, os quais, no espírito do Beato Pier Giorgio Frassati, percorreram a pé um antigo “caminho dos peregrinos”, desde os Alpes até Roma.

Domingo, 17 de Outubro de 1999

PAPA JOÃO PAULO II

João Paulo II: 27/05/1999

MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II
AO ASSISTENTE-GERAL
DA ACÇÃO CATÓLICA ITALIANA

Ao venerado Irmão D. AGOSTINO SUPERBO
Assistente-Geral da Acção Católica Italiana

1. Por ocasião da VII Assembleia nacional do Movimento Eclesial de Compromisso Cultural (MEIC), que terá lugar em Assis nos próximos dias 28-30 de Maio, desejo transmitir-lhe, venerado Irmão, bem como ao Assistente Central, Mons. Pino Scabini, ao Presidente Nacional, Prof. Lorenzo Caselli, e aos demais participantes a minha afável e cordial saudação, juntamente com as expressões do meu apreço e encorajamento.
Com este importante encontro o MEIC – que na nova denominação reúne a benemérita tradição dos «Laureados católicos» e os ideais jamais esquecidos dos seus fundadores, o então D. Giovanni Battista Montini, sucessivamente Papa Paulo VI, de veneranda memória, e o Prof. Igino Righetti – interroga-se acerca do modo como exercer no limiar do novo Milénio e em continuidade com a sua história, uma responsabilidade cultural assumida como vocação de «caridade de inteligência».
A incessante aceleração dos ritmos da história, a crise das culturas, os desafios apresentados por algumas escolas de pensamento e por uma mentalidade que ignora cada vez mais a antropologia cristã exigem um renovado anúncio do Evangelho que, como recordava o meu venerado predecessor Paulo VI, consiste fundamentalmente em inserir a Palavra de Deus no círculo do debate humano (cf. Ecclesiam suam, AAS 56 [1964], pág. 664). A nova evangelização, urgente tarefa da Igreja contemporânea, compromete o MEIC no cuidado pela cultura, a fim de que esta seja vivificada pelo fermento do Evangelho, através da via do respeito da inteligência e da competência na investigação da verdade; do cultivo dos vários campos do saber, à luz da Revelação estudada com paixão; de uma participação incondicional nos propósitos essenciais da Igreja, em plena comunhão com os Pastores; do diálogo paciente e persuadido, em atitude de cordial abertura a cada um dos interlocutores. Este compromisso, que pode contar com a promissora presença dos jovens e a rica experiência de quantos desde há muito tempo fazem parte desta Associação, tem em vista em primeiro lugar suscitar a consciência de que são «pedras vivas» de um edifício espiritual maior, onde se podem saborear os frutos de reconciliação e de paz que o próximo ano jubilar celebra e, num certo sentido, antecipa (cf. 1 Pd 2, 5).
2. Na oportuna busca de novas abordagens culturais para melhor enfrentar os desafios do presente, é necessário que se conserve inalterada a finalidade da vossa Associação que, como tive ocasião de dizer no encontro de 16 de Janeiro de 1982, consiste em «pensar e promover a cultura em estreita conexão com a fé que professais, actuando uma verdadeira síntese entre a fé e a cultura. Esta é a vossa missão específica, à qual jamais vos podeis subtrair como homens de cultura ou como crentes, uma vez que tal síntese é exigência tanto da cultura como da fé» (Insegnamenti V/1, pp. 129-130).
Consequentemente, deve-se cultivar com particular cuidado o carácter eclesial laical que, além de qualificar a presença do MEIC nos modernos areópagos culturais e profissionais, garante a sua identidade de movimento de pessoas amadurecidas na fé, co-responsáveis pela obra de evangelização, em união de intenções com outras experiências eclesiais, especialmente com a Acção Católica Italiana. Quanto a isto, muito beneficiará o Movimento o assíduo contributo dos Assistentes eclesiásticos, sinal do ligame com o Bispo e o Magistério da Igreja.
Os propósitos e a identidade do MEIC encontrarão num estilo de vida arraigado no Evangelho e experimentado na investigação científica e no serviço aos irmãos, a mais excelsa garantia de autenticidade e a capacidade de valorizar o passado para se abrir corajosamente ao futuro.
Ao realizarem a sua precípua vocação, os membros do MEIC serão orientados e estimulados por inumeráveis testemunhas fiéis a Deus e ao homem, algumas das quais foram elevadas às honras dos altares: de São José Moscati aos Beatos Contardo Ferrini e Piergiorgio Frassati, do Servo de Deus Paulo VI a José Lazzari, Vico Necchi, Itália Mela, Vitório Bachelet e aos numerosos homens e mulheres que assumiram com seriedade este imperativo: «Assim como Aquele que vos chamou é santo, sede também vós santos em todas as vossas acções, pois está escrito: “Sereis santos porque Eu sou santo”» (1 Pd 1, 15-16).
3. Por conseguinte, o tema da VII Assembleia nacional, «Testemunho do Evangelho e estilos de vida. A responsabilidade do MEIC» adquire uma singular característica de actualidade.
Diante dos limites e dos riscos de uma complexidade fragmentada, de um eclipse da razão crítica, de uma crescen-te separação entre fé e razão, é necessário despender contínuos esforços de análise e de síntese do contributo, paciente e às vezes difícil, que o crente deve oferecer ao mundo da cultura. Este exige o conhecimento dos multíplices estilos de vida presentes no contexto actual, o contacto real com a sociedade e o confronto com os vários ambientes, culturas e situações. Esta tarefa deve ser assumida por pessoas que, não só a nível individual mas coralmente, tenham a capacidade de meditar, discernir e criar uma sintonia entre os diversificados pólos culturais, ajudando a cultura leiga a situar-se naquele horizonte genuíno que consente ao homem a suprema realização de si mesmo (cf. Fides et ratio, 107)
Interpretar as exigências da sociedade italiana, assumir as problemáticas mais radicais que inquietam as consciências e ao mesmo tempo apelam ao mistério de Deus, empenhar-se em criar o paciente equilíbrio que requer a «compenetração da cidade terrena e da cidade celeste», concebida na fé e destinada a consolidar a mesma vida civil, tornando-a mais humana (cf. Gaudium et spes, 40): eis a contribuição do MEIC para o Projecto cultural orientado em sentido cristão, promovido pela Igreja que está na Itália!
Para servir de maneira cada vez mais incisiva a Igreja e a cidade do homem, o MEIC é chamado a enriquecer a sua diaconia à verdade com as características da criatividade e do esforço de permanecer sempre na perspectiva sapiencial que leva à nascente vivificante: o Senhor Jesus, de quem promanam a verdade e a graça (cf. Jo 1, 17).
Desta forma, as Igrejas locais e a mesma Comunidade nacional poderão receber um significativo contributo em vista da promoção de uma nova cultura aberta aos grandes valores humanos e cristãos.
4. Formulo votos por que esta Assembleia constitua para o MEIC um momento de renovada fidelidade, de profícua investigação e de corajosa projectação, e que nesta perspectiva o iminente Grande Jubileu do Ano Santo 2000 seja para todos os seus aderentes uma ocasião para encontrar Cristo e, n’Ele, «o verdadeiro critério para avaliar a realidade temporal e qualquer projecto que procure tornar a vida do homem cada vez mais humana» (Incarnationis mysterium, 1).
Com estes bons votos, enquanto invoco a materna intercessão da Virgem Sede da Sabedoria, que ensina a interpretar a história à luz do amor sempre novo do Pai, de coração concedo-lhe, venerado Irmão, bem como aos Representantes do MEIC, aos participantes na Assembleia e ao inteiro Movimento a implorada Bênção Apostólica, portadora da luz e da benevolência divinas.

Vaticano, 27 de Maio de 1999.

PAPA JOÃO PAULO II

João Paulo II: 20/05/1990 (A beatificação)

Pier Giorgio Frassati, ajuda-nos a viver a esperança de um mundo melhor!

Toda a igreja viveu momentos de festa, na manhã de domingo 20 de maio, quando foi elevado às honras do altar, como novo Beato, um dos seus filhos proposto como modelo de vida cristã a todos os crentes mas, de modo especial, aos jovens. Trata-se da vida simples extraordinária de Pier Giorgio Frassati, reconhecida oficialmente pela Igreja com o solene rito de Beatificação, presidido por João Paulo II durante a concelebração eucarística na Praça de São Pedro.
O pedido oficial de Beatificação e a síntese biográfica do Servo de Deus, foram apresentados pelo Arcebispo de Turin, D. Giovanni Saldarini. Em seguida, o Santo Padre pronunciou a fórmula ritual de Beatificação, fixando o dia 04 de julho para o culto do Beato Frassati. Tendo sido descerrado o painel, colocado na fachada da Basílica Vaticana que representava o jovem Frassati como um alpinista, toda a assembléia aclamou este novo modelo de vida cristã. Foi então cantado o “Glória” e teve prosseguimento a Santa Missa.
Encontravam-se presentes na cerimônia o Excelentíssimo Presidente da República Italiana, acompanhado de outras autoridades do Governo, principalmente as que se sentem ligadas à Ação Católica, na qual Frassati se empenhou com tanto entusiasmo; alguns membros da família do novo Beato, entre os quais sua irmã, a senhora Luciana Frassati Gawronska que foi a grande promotora da causa da beatificação; vários Cardeais, Arcebispos e Bispos da Cúria Romana e das regiões do Piemonte, terra natal do novo Beato; os Membros do corpo Diplomático junto a Santa Sé; grande número de sacerdotes, religiosos e leigos, diretamente empenhados nos movimentos e organizações de apostolado leigo.
Após a leitura do Evangelho, o Santo Padre pronunciou a seguinte homilia:

“Eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro consolador… o Espírito da Verdade” (Jô 14,16).

No tempo pascal, à medida que nos aproximamos do Pentecostes, estas palavras tornam-se cada vez mais atuais.

Elas foram pronunciadas no Cenáculo por Jesus, na vigília da Paixão, enquanto se despedia dos Apóstolos. A sua partida – a partida do amado Mestre mediante a morte e a ressurreição – abre o caminho para outro consolador (Jo 16,7). Virá o Paráclito: virá graças precisamente à morte redentora de Cristo, que torna possível e inaugura a nova presença misericordiosa de Deus entre os homens.

O Espírito da Verdade, que o mundo não vê nem conhece, faz-se, porém, conhecer pelos apóstolos, “Porque há de habitar com eles e atuará neles” (Jo 14,17). E disto, no dia de Pentecostes, todos se tornarão testemunhas.

O pentecostes, todavia, é apenas início, porque o Espírito da Verdade vem para permanecer com a Igreja para sempre (Jo 14,16), no incessante renovar-se das gerações futuras. E então não só aos homens do seu tempo, mas a todos nós e aos nossos contemporâneos se dirigem as palavras do Apóstolo Pedro:
“Venerai Cristo Senhor nos vossos corações e estai sempre prontos a responder, a todo aquele que vos perguntar a razão da vossa esperança” (! Ped. 3,15).
No nosso século, Píer Giorgio Frassati, a quem em nome da Igreja eu tive a alegria de proclamar Beato, encarnou na própria vida estas palavras de São Pedro. O poder do Espírito da Verdade, unido à Cristo, tornou-o moderna testemunha da esperança, que provém do Evangelho, e da graça de salvação operante no coração do homem.
Deste modo, ele tornou-se a testemunha viva e o defensor corajoso desta esperança, em nome dos jovens cristãos do século XX.

A fé e a caridade, verdadeiras forças motrizes da sua existência, tornaram-no ativo e operoso no ambiente em que viveu, na família e na escola, na universidade e na sociedade; transformaram-no em alegre entusiasta apóstolo de Cristo, em apaixonado seguidor da sua mensagem e da sua caridade.

O segredo de seu zelo apostólico e de sua santidade deve ser buscado no itinerário ascético e espiritual por ele percorrido; na oração, na adoração perseverante, também noturna, do Santíssimo Sacramento, na sua sede da Palavra de Deus, perscrutada nos textos bíblicos; há serena aceitação das dificuldades da vida, mesmo familiares; na castidade vivida com disciplina alegre e sem comprometimentos; na predileção cotidiana pelo silêncio e pela “normalidade” da existência.
É precisamente nestes fatores que nos é dado descobrir a fonte profunda da sua vitalidade espiritual.

Com efeito, é por meio da Eucaristia que Cristo comunica o seu Espírito; é mediante a escuta de sua palavra que cresce a disponibilidade a acolher os outros, e é também través do abandono orante na vontade de Deus que amadurecem as grandes decisões da vida. Só adorando a Deus presente no próprio coração, o batizado pode responder àquele que lhe perguntar a razão da sua esperança. E o jovem Frassati sabe-o, experimenta-o, vive-o . Na sua existência fé funda-se com a caridade; sólido na fé e operante na caridade, porque a fé sem obras é morta (Tg. 2,20).

Certamente, a um olhar superficial, o estilo de Pier Giorgio, um jovem moderno cheio de vida, não apresenta grandes coisas extraordinárias. Mas precisamente esta é a originalidade das suas virtudes, que convida a refletir e impele à imitação.

Nele, a fé e os acontecimentos cotidianos fundem-se de maneira harmoniosa, tanto que a adesão ao Evangelho se traduz em atenção amorosa aos pobres e aos necessitados, num crescendo contínuo até aos últimos dias da doença que o levará à morte. O gosto do belo e da arte, a paixão pelo desporto e pela montanha, e a atenção aos problemas da sociedade não lhe impedem a relação constante com o absoluto.

Toda imersa no mistério de Deus e toda dedicada ao constante serviço ao próximo: Assim se pode resumira sua jornada terrena.

A sua vocação de leigo cristão realizava-se nos seus múltiplos empenhos associativos e políticos, numa sociedade em agitação, indiferente e às vezes hostil à Igreja. Com este espírito, Píer Giorgio soube dar impulso aos vários movimentos católicos, aos quais aderiu com entusiasmo, mas, sobretudo à Ação Católica, e também à FUCI, na qual encontrou verdadeiro treinamento de formação cristã e campos propícios para o seu apostolado. Na ação Católica ele viveu a vocação cristã, com alegria e orgulho e empenhou-se em amar Jesus e em divisar nele os irmãos que encontrava pelo caminho ou buscava nos lugares de sofrimento, da marginalização e do abandono, para fazer com que eles sentissem o calor da sua solidariedade humana e o conforto sobrenatural da sua fé em Cristo. Morreu jovem, ao término duma existência breve, mas, extraordinariamente rica de frutos espirituais, encaminhando-se para a verdadeira pátria a cantar os louvores a Deus.

A celebração de hoje convida todos nós a acolhermos a mensagem, que este jovem transmite aos homens do nosso tempo, sobretudo a vós, jovens, desejosos de oferecer um concreto tributo de renovação espiritual a este nosso mundo, que às vezes parece desagregar-se e definhar-se por falta de ideais.

Ele proclama, com o seu exemplo, que é bem aventurada a vida conduzida no Espírito de Cristo, Espírito das Bem-aventuranças, e que só aquele que se torna homem das Bem-aventuranças consegue comunicar aos irmãos o amor e a paz. Ele repete que verdadeiramente vale a pena sacrificar tudo para servir o senhor. Testemunha que a santidade é possível a todos e que só a revolução da caridade pode acender no coração dos homens a esperança de um futuro melhor.

Sim, quão magníficas são as obras do Senhor… “Aclamai ao Senhor toda a terra” Sl 65/66, 1-3).

Os versículos do Salmo, que ressoam na liturgia deste domingo, são como um eco vivo da alma do jovem Frassati. Sabe-se, de fato, quanto ele tenha amado o mundo criado por Deus!

“Vinde e vede as gestas de Deus” (Sl 65/66,5): também este é um convite que se recolhe da sua jovem alma e, de modo particular, se dirige aos jovens.
Admirável é Deus de suas Ações entre os homens. Admirável o seu agir em favor dos homens! É preciso que os olhos humanos – olhos jovens sensíveis – saibam admirar as obras de Deus, no mundo exterior e visível. É preciso que os olhos da alma saibam voltar-se deste mundo exterior e visível, para o mundo interior e invisível; e assim possam manifestar ao homem aquelas dimensões do espírito, nas quais se reflete a luz do verbo que ilumina todo o homem (Jo 1,9).

Nesta luz o espírito da verdade.

Eis o homem interior! E assim nos aparece Pier Giorgio Frassati. De fato, toda a sai vida parece resumir as palavras de Cristo, que encontramos no Evangelho de João: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu pai amá-lo-á e viremos a ele e faremos nele morada” (Jo 14,23).

Ele é o homem interior amado pelo Pai, porque muito amou!

Ele é também o homem do nosso século, homem moderno, o homem que tanto amou!

Porventura, não é o amor a coisa mais necessária ao nosso século XX, tanto no seu início como no seu fim? Porventura, não é verdadeiro que só permanece, sem nunca perder a sua validade: o fato de que amou?
Ele partiu jovem deste mundo, mas deixou um sinal no século inteiro, e não apenas neste nosso século. Ele partiu deste mundo, mas no poder pascal do seu batismo, pode repetir a todos, de modo particular às jovens gerações de hoje e de amanhã: “Vós ver-meeis, porque eu vivo e vós vivereis”(Jô 14,19). Estas palavras foram pronunciadas por Jesus Cristo, enquanto se despedida dos Apóstolos, antes de enfrentar a paixão. É-me grato reconhece-las dos lábios mesmos do novo Beato, como persuasivo convite a viver de Cristo, em Cristo. E é convite válido ainda agora, válido também hoje, sobretudo para os jovens de hoje. Válido para todos nós. Convite que nos foi deixado por Pier Giorgio Frassati.

* A beatificação ocorreu no dia 20 de maio de 1990, na praça São Pedro.