Um modelo para os jovens: Pier Giorgio Frassati

Paolo Risso

Testemunhou Cristo por toda parte, sem medo

Por vários decênios, na Ação Católica, conhecia-se Pier Giorgio Frassati como exemplo mais impetuoso e envolvente. Forte, bonito, inteligente e sobretudo apaixonado por Cristo até ao heroísmo. Assim se doava aos amigos, aos pobres, sonhando em formar para si uma família verdadeiramente cristã, antes que algum mal fulminante lhe truncasse a vida.
Viam-no passar pelos campos de Biella sobre seu cavalo Parsifal. Pelas ruas de Turim, com amigos e amigas fazia barulho por quatro. Agarrava-se aos altos picos dos Alpes, ágil e forte, arrastando-se atrás dos pequenos, com seus músculos de aço… Um semblante aberto ao sorriso e à risada franca. Simpático, envolvente, se fazia amar.
Assim era Pier Giorgio Frassati, filho do senador liberal Alfredo Frassati, fundador, proprietário e diretor do La Stampa, embaixador da Itália em Berlim. Nasceu em Turim, dia 6 de abril de 1901, um Sábado Santo.
Através da mãe, de seu primeiro instrutor – o salesiano D. Cojazzi – e de seus professores, Píer Giorgio recebeu uma clara formação cristã, complementada pelo Instituto Social dos Padres Jesuítas. Pier Giorgio descobriu muito cedo o Cristo como seu primeiro Amor: se sentiu amado por Ele e chamado a intercambiar com Ele um afeto extraordinário.

Uma vida como paixão de amor

Ama os outros, é generoso, altruísta. Goza de todas as realidades bonitas da vida, a natureza, a arte, a amizade, as brincadeiras ingênuas, o esporte. Os pequenos, os últimos, são seus prediletos. Pensa utilizar a vida como dom de amor entre os trabalhadores mais oprimidos pelo cansaço: os mineiros. Por isso, após terminar o curso Médio, se inscreveu no Politécnico de Turim para se tornar engenheiro de minas. Existe um fato único na vida de Pier Giorgio: o Cristo que transforma tudo e o mobiliza por todos os caminhos para torná-Lo presente e mudar o mundo. Pier Giorgio estuda e convive com os amigos, reza intensamente, com o Rosário entre as mãos, vai receber a Sagrada Eucaristia todos os dias. Depois se empenha na sociedade e na política. Faz parte de forma muito ativa das Conferências de S. Vicente e serve aos pobres nos sótãos (N.T.: na época, na Europa, os pobres habitavam os lugares mais altos das construções, que também eram os mais frios e insalubres). Participa do Círculo Universitário Cesare Balbo, inscreve-se no Partido Popular apenas iniciado, dedica-se aos mais humildes e luta contra o fascismo nascente. Dá seu nome aos “Adoradores noturnos” e passa as noites em oração, na frente do Tabernáculo; apaixona-se pelas montanhas, pelas corridas de bicicleta e de automóvel.
Os amigos o seguem porque é um verdadeiro líder, humilde, tenaz, fascinante. Incute respeito aos liberais como seu pai e aos socialistas como Filipo Turati. Os fascistas o temem porque experimentaram um dia na própria pele seus terríveis socos.
Apaga-se acometido por uma poliomielite fulminante, adquirida de seus pobres, em um sótão, a 4 de julho de 1925. Seus funerais são um triunfo.

A fé como fonte puríssima

Estes são os 24 anos de Pier Giorgio Frassati. É bom para nós de hoje olharmos o fundo dessa existência. No princípio de tudo há a sua fé, uma fé forte, transbordante, alegre. Retiramos de suas cartas:
“Sozinho não farás nada, mas se tiveres Deus como centro de toda tua ação, então chegarás até o fim”.
“O único conforto é a fé, único vinculo poderoso, única base segura”.
“Só a fé pode ser minha esperança, a única e verdadeira alegria é a fé”.
Não conhecia respeito humano. Tinha uma fé aberta, declarada com despojamento, com extrema naturalidade e tranqüilidade como expressão de vida, frente a qualquer um, fosse liberal ou socialista. Um dia foi insultado por um socialista que lhe desfechou um soco. Pier Giorgio lhe respondeu calmo e decidido: “Sua violência não pode superar a força da nossa fé, porque Cristo não morre”.
Sua fé lhe dava um impulso sem limites em direção à santidade: essa era sua maior aspiração. Daí sua oração simples, ardente, um verdadeiro diálogo de amor com Deus. Capaz de ficar em jejum desde a meia noite – como era costume na época – até o final da tarde, para receber todos os dias a Comunhão. Ou de desfiar de joelhos seu Rosário a Nossa Senhora, ao pé da cama, depois de uma jornada de escola e estudos, ou de uma cansativa e alegre excursão pela montanha, ou ainda no trem, em meio a ruidosos amigos.
Existe um grande amor na vida de Pier Giorgio: o Cristo.
Diante do Cristo, Pier Giorgio tinha conquistado uma virgindade, uma pureza angélica: para ele tudo era límpido e puro, não havia malícia ou duplicidade.
Também sabia amar com o coração de um homem: Laura Hidalgo foi sua jovem amada, à qual renunciou para não contrariar seus pais, porque ele, não outro, devia sofrer.

Cristo operante na história

Com a alma assim formada, Pier Giorgio queria entrar na sociedade. E entrou com a força de seus 20 anos, possuídos pelo Cristo, que aparentavam – como disse um seu amigo – “uma avalanche de vida que quase assustava”.
Com o coração repleto de luz e amor, sustentado pelo exemplo de seus santos, Pier Giorgio, rico burguês filho de um senador, subia aos altos sótãos de Turim, andava pela periferia em meio aos pobres e aos doentes, levando o serviço alegre da sua caridade.
Privava-se de tudo, também do mais necessário, para fazer feliz uma criança ou um velhinho. Mortificava seu orgulho estendendo a mão para seu pai e pedindo-lhe dinheiro para seus pobres; aproximava-se dos doentes mais necessitados com coração de mãe para prestar-lhes os serviços mais humildes e desagradáveis.
Perguntaram-lhe uma vez: “Como você faz para vencer a repulsa?” Respondeu: ”Não esqueça nunca que se a casa é sórdida, você se aproxima de Cristo. Foi Ele quem disse: O bem feito aos pobres, é feito a mim. À volta do miserável eu vejo uma luz particular que nós não temos.”
Mas a caridade de Pier Giorgio se dilatava também no empenho político e social. Enquanto Antonio Gramsci, fundador do Partido Comunista, escrevia naqueles anos: “O mito cristão dá pena por sua impotência e esterilidade” e exclamava: “ Oh ! juventude decrépita do catolicismo !”, Pier Giorgio testemunhava como o Cristo entra na cultura, na escola, no debate social e político e tudo se transforma, vivifica e renova.
Rejeitava do modo mais absoluto o comunismo, porque ateu e violento, mas chamava os fascistas de “um bando de enganadores”, “o flagelo da Itália”. Fez sua inscrição no Partido Popular de D. Sturzo e de De Gasperi, compartilhando com eles os ideais de liberdade e promoção social. Estava interessado nos problemas de reconstrução da Alemanha destruída, quando foi com o pai para Berlim; debatia com os amigos os problemas dos operários e dos trabalhadores, com grandes projetos a realizar quando, após a graduação, pudesse trabalhar entre o povo.
Pier Giorgio sabia que quando o Cristo chega, renova todas as coisas. O seu cristianismo não era dividido: era integral. Era um homem todo de Deus.

Um jubilo impetuoso, sem limites

Quem se aproximava dele sentia a palpitação forte da vida. Pier Giorgio, todo de Deus, era um jovem feliz, mesmo na dor lancinante. Escrevia: “Cada católico não pode não ser alegre: a tristeza deve ser banida de nossos ânimos. A dor não é uma tristeza, que é uma doença quase sempre produzida pelo ateísmo.“
Diziam dele: ”Tinha um modo todo seu de tornar a fé fascinante. Projetava de forma tão viva e espontânea o que tinha dentro de si que chegava a impressionar”.
Muitos que não tinham simpatia alguma pelo catolicismo, sentiram quanto de cálido, de viçoso, de extremamente jovem e envolvente, existia na letícia de Pier Giorgio.
Essa alegria não veio pouca, exultou nele como em quem vai ao encontro do Amor desejado e esperado, quando, semi paralisado, sobre o leito de morte, aos 24 anos, o sacerdote lhe anunciou: “Pier Giorgio, e se a vovó o chamasse no Paraíso?”. Ele respondeu: “Oh, como ficaria feliz!”
Aquele dia do início de julho de 1925, Pier Giorgio ia ao encontro do Amor, da Vida.
Depois de mais de 50 anos, seu corpo, exumado em 1981 no cemitério de Pollone, perto de Biella, surgiu intacto; Pier Giorgio ainda estava viçoso e bonito como um menino. Talvez fosse essa “a assinatura” de Deus no “jovem rico” que tinha sabido dizer “sim” a Cristo até o fim.

* Escritor autor de vários livros.

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