João Paulo II: 20/05/1990 (A beatificação)

Pier Giorgio Frassati, ajuda-nos a viver a esperança de um mundo melhor!

Toda a igreja viveu momentos de festa, na manhã de domingo 20 de maio, quando foi elevado às honras do altar, como novo Beato, um dos seus filhos proposto como modelo de vida cristã a todos os crentes mas, de modo especial, aos jovens. Trata-se da vida simples extraordinária de Pier Giorgio Frassati, reconhecida oficialmente pela Igreja com o solene rito de Beatificação, presidido por João Paulo II durante a concelebração eucarística na Praça de São Pedro.
O pedido oficial de Beatificação e a síntese biográfica do Servo de Deus, foram apresentados pelo Arcebispo de Turin, D. Giovanni Saldarini. Em seguida, o Santo Padre pronunciou a fórmula ritual de Beatificação, fixando o dia 04 de julho para o culto do Beato Frassati. Tendo sido descerrado o painel, colocado na fachada da Basílica Vaticana que representava o jovem Frassati como um alpinista, toda a assembléia aclamou este novo modelo de vida cristã. Foi então cantado o “Glória” e teve prosseguimento a Santa Missa.
Encontravam-se presentes na cerimônia o Excelentíssimo Presidente da República Italiana, acompanhado de outras autoridades do Governo, principalmente as que se sentem ligadas à Ação Católica, na qual Frassati se empenhou com tanto entusiasmo; alguns membros da família do novo Beato, entre os quais sua irmã, a senhora Luciana Frassati Gawronska que foi a grande promotora da causa da beatificação; vários Cardeais, Arcebispos e Bispos da Cúria Romana e das regiões do Piemonte, terra natal do novo Beato; os Membros do corpo Diplomático junto a Santa Sé; grande número de sacerdotes, religiosos e leigos, diretamente empenhados nos movimentos e organizações de apostolado leigo.
Após a leitura do Evangelho, o Santo Padre pronunciou a seguinte homilia:

“Eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro consolador… o Espírito da Verdade” (Jô 14,16).

No tempo pascal, à medida que nos aproximamos do Pentecostes, estas palavras tornam-se cada vez mais atuais.

Elas foram pronunciadas no Cenáculo por Jesus, na vigília da Paixão, enquanto se despedia dos Apóstolos. A sua partida – a partida do amado Mestre mediante a morte e a ressurreição – abre o caminho para outro consolador (Jo 16,7). Virá o Paráclito: virá graças precisamente à morte redentora de Cristo, que torna possível e inaugura a nova presença misericordiosa de Deus entre os homens.

O Espírito da Verdade, que o mundo não vê nem conhece, faz-se, porém, conhecer pelos apóstolos, “Porque há de habitar com eles e atuará neles” (Jo 14,17). E disto, no dia de Pentecostes, todos se tornarão testemunhas.

O pentecostes, todavia, é apenas início, porque o Espírito da Verdade vem para permanecer com a Igreja para sempre (Jo 14,16), no incessante renovar-se das gerações futuras. E então não só aos homens do seu tempo, mas a todos nós e aos nossos contemporâneos se dirigem as palavras do Apóstolo Pedro:
“Venerai Cristo Senhor nos vossos corações e estai sempre prontos a responder, a todo aquele que vos perguntar a razão da vossa esperança” (! Ped. 3,15).
No nosso século, Píer Giorgio Frassati, a quem em nome da Igreja eu tive a alegria de proclamar Beato, encarnou na própria vida estas palavras de São Pedro. O poder do Espírito da Verdade, unido à Cristo, tornou-o moderna testemunha da esperança, que provém do Evangelho, e da graça de salvação operante no coração do homem.
Deste modo, ele tornou-se a testemunha viva e o defensor corajoso desta esperança, em nome dos jovens cristãos do século XX.

A fé e a caridade, verdadeiras forças motrizes da sua existência, tornaram-no ativo e operoso no ambiente em que viveu, na família e na escola, na universidade e na sociedade; transformaram-no em alegre entusiasta apóstolo de Cristo, em apaixonado seguidor da sua mensagem e da sua caridade.

O segredo de seu zelo apostólico e de sua santidade deve ser buscado no itinerário ascético e espiritual por ele percorrido; na oração, na adoração perseverante, também noturna, do Santíssimo Sacramento, na sua sede da Palavra de Deus, perscrutada nos textos bíblicos; há serena aceitação das dificuldades da vida, mesmo familiares; na castidade vivida com disciplina alegre e sem comprometimentos; na predileção cotidiana pelo silêncio e pela “normalidade” da existência.
É precisamente nestes fatores que nos é dado descobrir a fonte profunda da sua vitalidade espiritual.

Com efeito, é por meio da Eucaristia que Cristo comunica o seu Espírito; é mediante a escuta de sua palavra que cresce a disponibilidade a acolher os outros, e é também través do abandono orante na vontade de Deus que amadurecem as grandes decisões da vida. Só adorando a Deus presente no próprio coração, o batizado pode responder àquele que lhe perguntar a razão da sua esperança. E o jovem Frassati sabe-o, experimenta-o, vive-o . Na sua existência fé funda-se com a caridade; sólido na fé e operante na caridade, porque a fé sem obras é morta (Tg. 2,20).

Certamente, a um olhar superficial, o estilo de Pier Giorgio, um jovem moderno cheio de vida, não apresenta grandes coisas extraordinárias. Mas precisamente esta é a originalidade das suas virtudes, que convida a refletir e impele à imitação.

Nele, a fé e os acontecimentos cotidianos fundem-se de maneira harmoniosa, tanto que a adesão ao Evangelho se traduz em atenção amorosa aos pobres e aos necessitados, num crescendo contínuo até aos últimos dias da doença que o levará à morte. O gosto do belo e da arte, a paixão pelo desporto e pela montanha, e a atenção aos problemas da sociedade não lhe impedem a relação constante com o absoluto.

Toda imersa no mistério de Deus e toda dedicada ao constante serviço ao próximo: Assim se pode resumira sua jornada terrena.

A sua vocação de leigo cristão realizava-se nos seus múltiplos empenhos associativos e políticos, numa sociedade em agitação, indiferente e às vezes hostil à Igreja. Com este espírito, Píer Giorgio soube dar impulso aos vários movimentos católicos, aos quais aderiu com entusiasmo, mas, sobretudo à Ação Católica, e também à FUCI, na qual encontrou verdadeiro treinamento de formação cristã e campos propícios para o seu apostolado. Na ação Católica ele viveu a vocação cristã, com alegria e orgulho e empenhou-se em amar Jesus e em divisar nele os irmãos que encontrava pelo caminho ou buscava nos lugares de sofrimento, da marginalização e do abandono, para fazer com que eles sentissem o calor da sua solidariedade humana e o conforto sobrenatural da sua fé em Cristo. Morreu jovem, ao término duma existência breve, mas, extraordinariamente rica de frutos espirituais, encaminhando-se para a verdadeira pátria a cantar os louvores a Deus.

A celebração de hoje convida todos nós a acolhermos a mensagem, que este jovem transmite aos homens do nosso tempo, sobretudo a vós, jovens, desejosos de oferecer um concreto tributo de renovação espiritual a este nosso mundo, que às vezes parece desagregar-se e definhar-se por falta de ideais.

Ele proclama, com o seu exemplo, que é bem aventurada a vida conduzida no Espírito de Cristo, Espírito das Bem-aventuranças, e que só aquele que se torna homem das Bem-aventuranças consegue comunicar aos irmãos o amor e a paz. Ele repete que verdadeiramente vale a pena sacrificar tudo para servir o senhor. Testemunha que a santidade é possível a todos e que só a revolução da caridade pode acender no coração dos homens a esperança de um futuro melhor.

Sim, quão magníficas são as obras do Senhor… “Aclamai ao Senhor toda a terra” Sl 65/66, 1-3).

Os versículos do Salmo, que ressoam na liturgia deste domingo, são como um eco vivo da alma do jovem Frassati. Sabe-se, de fato, quanto ele tenha amado o mundo criado por Deus!

“Vinde e vede as gestas de Deus” (Sl 65/66,5): também este é um convite que se recolhe da sua jovem alma e, de modo particular, se dirige aos jovens.
Admirável é Deus de suas Ações entre os homens. Admirável o seu agir em favor dos homens! É preciso que os olhos humanos – olhos jovens sensíveis – saibam admirar as obras de Deus, no mundo exterior e visível. É preciso que os olhos da alma saibam voltar-se deste mundo exterior e visível, para o mundo interior e invisível; e assim possam manifestar ao homem aquelas dimensões do espírito, nas quais se reflete a luz do verbo que ilumina todo o homem (Jo 1,9).

Nesta luz o espírito da verdade.

Eis o homem interior! E assim nos aparece Pier Giorgio Frassati. De fato, toda a sai vida parece resumir as palavras de Cristo, que encontramos no Evangelho de João: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu pai amá-lo-á e viremos a ele e faremos nele morada” (Jo 14,23).

Ele é o homem interior amado pelo Pai, porque muito amou!

Ele é também o homem do nosso século, homem moderno, o homem que tanto amou!

Porventura, não é o amor a coisa mais necessária ao nosso século XX, tanto no seu início como no seu fim? Porventura, não é verdadeiro que só permanece, sem nunca perder a sua validade: o fato de que amou?
Ele partiu jovem deste mundo, mas deixou um sinal no século inteiro, e não apenas neste nosso século. Ele partiu deste mundo, mas no poder pascal do seu batismo, pode repetir a todos, de modo particular às jovens gerações de hoje e de amanhã: “Vós ver-meeis, porque eu vivo e vós vivereis”(Jô 14,19). Estas palavras foram pronunciadas por Jesus Cristo, enquanto se despedida dos Apóstolos, antes de enfrentar a paixão. É-me grato reconhece-las dos lábios mesmos do novo Beato, como persuasivo convite a viver de Cristo, em Cristo. E é convite válido ainda agora, válido também hoje, sobretudo para os jovens de hoje. Válido para todos nós. Convite que nos foi deixado por Pier Giorgio Frassati.

* A beatificação ocorreu no dia 20 de maio de 1990, na praça São Pedro.

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