Pier Giorgio Frassati e a experiência de Deus.

Silvia Regina Brandão*

Atualmente o contexto cultural no qual se dá o processo educativo de crianças e jovens caracetriza-se por múltiplos e atraentes instrumentos de informação e comunicação, por mudanças rápidas e constantes, por variados e, muitas vezes contraditórios, valores e  referências  propostos pela família, escola, grupo de amigos, etc..  A característica comum a esses ambientes formativos  parece ser a falta de espaço para o acontecer humano, particularmente para o desejo ou exigência humana fundamental de identificar algo de válido e de certo, objetivos sólidos com os quais construir a vida. Há uma busca constante pelo bem-estar momentâneo, um fechamento no horizonte estreito da imanência e do pragmatismo e a experiência da dor por não ser olhado e recebido pelo que se é. Verifica-se claramente a necessidade de escuta e orientação – tanto dos educandos quanto dos educadores – que possibilite a descoberta de si e previna o risco de esvaziamento da pessoa ou de perda da identidade. Diante das solicitações de todo tipo presentes na sociedade contemporânea que, em ritmos crescentes exigem respostas cada vez mais rápidas, torna-se imperioso a existência de espaços de acolhimento do humano – dos jovens e adultos – que favoreçam o processo formativo e de crescimento pessoal. É preciso oferecer ambientes em a pessoa possa existir, ser como é, expressar sua humanidade no que tem de mais orginário que é a busca de sentido, do mistério, do infinito.  A Igreja é chamada a constuir-se cada vez mais em uma morada capaz de acolher o humano, um lugar em que seja possível conhecer pessoas que vivem ou viveram nesse contexto com toda sua humanidade, dando testemunho de que a experiência cristã convém ao homem atual e é essencial para que ele possa lembrar-se de quem ele é. Pier Giorgio comunicou  com sua existência concreta que o encontro com Cristo é interessante para vida, torna-a mais fascinante e realizada. Esse é o nosso desejo e pedido: que possamos fazer a mesma experiência que ele nos dias de hoje.

*Psicóloga, Doutora em Educação,professora da Faculdade Santa Marcelina

Fragmentos do livro escrito por Luciana Frassati, irmã do Beato Pier Giorgio Frassati

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Diego Silva*

Em seu livro: Pier Giorgio Frassati: los dias de su vida, autoria de Luciana Frassati, irmã do Beato Píer Giorgio Frassati, nos traz detalhes valiosos da vida de Píer Giorgio. Primeiro, pelo fato dela ser irmã dele e ter tido um contato muito próximo, segundo, pela confiabilidade nos relatos.

O livro traz o prefácio escrito pelo teólogo jesuíta, Karl Rahner. Em seu prefácio Rahner comenta que conheceu pessoalmente Pier Giorgio Frassati quando ele foi hospedado na casa de sua família. “Conheci pessoalmente Frassati e que, apesar de passados cinqüenta anos, sua lembrança  é viva para mim”, comenta Rahner.

O próprio Rahner nos relata a impressão que o jovem lhe causou:

“Frassati representa o jovem cristão puro, alegre, dedicado a oração, aberto a todo o livre e belo, preocupado com os problemas sociais, que leva em seu coração a Igreja e seu destino, e todo ele é uma sinceridade serena e viril.”

Pier Giorgio nasceu ao som dos sinos que anunciava a festa da Ressurreição, no dia 06 de abril de 1901, às 18:30, na cidade de Turim, Itália. Seu pai se chamava Alfredo, dono do jornal La Stampa e sua mãe Adelaida Ametis.

Como sua irmã nos relata e confirmar o que sabíamos, ele era muito apegado a sua mãe, Adelaide, de quem aprendeu a piedade cristã. Assim sua irmã nos diz como ele era quando criança:

“Pier Giorgio crescia sério, justo, muito bonito; não se dava conta dos paravam na rua para lhe olhar, dos que admiravam seus enormes olhos negros, com o branco quase azul, abertos em uma cara que refletia a viva imagem de saúde.” (p. 33)

E nos diz de sua adolescência:

“Moreno, algo mais alto que média, era de homens ombros e braços forte. O cabelo rebelde marcava seu rosto harmônico com uma ponta central baixa. Umas sobrancelhas  grossas e perfeitamente marcadas se uniam ao olhos negros e muito grandes, cheia de expressão, com seus cilhos grandes e enrolados, que acentuava a profundidade de seus olhos, nariz aquilino, boca normal, mas se destacava sobre a pele morena do seu rosto; dentes branquíssimos. Orelhas pequenas, bem dispostas.

Sua postura, sua posição social, sua saúde excelente, que para os outros poderia ter sido peça de tropeço, foi para Pier Giorgio, porque assim desejou, escadas para subir. E sempre vencia sem uma queixa ou lágrima.”

Pier Giorgio admirava as cartas de São Paulo. “A mente, embreada de tanta ciência árida, encontra de vez em quando prazer, refúgio (refrigério) e gozo espiritual na leitura de São Paulo.” (p. 165) O Evangelho preferido de Pier Giorgio era São Matheus. Gostava de forma particular do sermão da montanha. Conhecia, também, a Rerum Novarum e De contemptu mundi, do papa Inocêncio III.

O conhecimento das encíclicas papais, sobretudo as encíclicas sociais, irá desperta no jovem Frassati o interesse pelo social e a política, “tinha desejo de gritar, de inscrever na política, de fazer ouvir sua voz a favor de uns ou de outros.”

Demonstrava desde de pequeno preocupação pelos problemas sociais. Sua caridade e desapego aos bem materiais lhe inspirava a prestar ajuda a todos. Sua visão política era muito clara,  sua posição contra ao liberais lhe fez entrar em conflito com seu pai. Ingressou na Federação de Estudantes Católicos, Ação Católica, Partido Popular Italiano, Federação de Estudantes Católicos à Organização Católica de Trabalhadores. Tinha consciência que  somente quando os católicos trabalharem de forma organizada é haverá de fato uma mudança das estruturas sociais, pois estas mudanças estarão inspiradas pela caridade cristã, que somente Cristo pode oferecer. 

“Há no mundo tanta gente perversa  e desgraçadamente muitos que de cristão só tem o nome, mas não o espírito; por isso creio que teremos que esperar bastante ainda a que chegue a verdadeira paz. Mas nossa fé nos ensina que temos que conservar sempre a esperança de desfrutá-la algum dia. A sociedade moderna se funde em dor das paixões humanas e se afasta de todo ideal de amor e de paz.”

Em uma conferência para a Sociedade São Vicente sobre a caridade, Pier Giorgio exorta aos jovens: 

“Cada um de vós sabe que a base fundamental de nossa religião é a Caridade, sem a qual nossa religião fracassaria, porque não seremos verdadeiramente católicos enquanto não cumpramos, ou seja, enquanto não adequamos toda nossa vida aos mandamentos são a essência da Fé católica: Amar a Deus com todas as nossas forças e ao próximo como a nós mesmo. Aí está a demonstração explícita de que a Fé católica se baseia no Amor, e não, como tantos queriam, para poder tranqüilizar sua consciência, basear a Religião de Cristo na violência.

Com a violência se semeia o ódio e logo se recolhe os frutos nefastos dessa colheita; com a caridade se colhe a Paz entre os homens, mas não a paz do mundo, mas sim, a verdadeira Paz que só a Fé em Jesus Cristo nos pode dar, irradiando uns aos outros.

Eu sei que esse caminho é árido e difícil e cheio de espinhos, enquanto que o outro, à primeira vista, poderia parecer mais fácil e mais satisfatório; mas se pudéssemos mergulhar dentro daqueles que, desgraçadamente, seguem os caminhos perversos do mundo, veríamos que nunca há neles a serenidade que procede de quem tem enfrentado milhares de dificuldades e renunciado a um prazer material para seguir os caminhos de Deus.”

Pier Giorgio morreu de poliomelite grave, sua irmã nos relata como foi seu últimos dias. Esta parte do livro é maravilhoso, percebemos detalhes emocionantes de sua vida. Pier Giorgio definhava em sua cama. Todos da casa estavam preocupados em atender sua avô doente: “ninguém se preocupou com ele. Inclusive eu, ainda que algo intuía vagamente,  não fui muito atenciosa. “Pier Giorgio vomita e tem febre”, insistia a minha mãe que sempre havia dito que os dois sintomas juntos é motivo de alarme, mas mamãe, muito afetada pela doença de minha avô e pela iminente separação matrimonial, não me fez caso.”

Pier Giorgio recebeu a santa confessou e recebeu a santa Comunhão, recebeu a unção dos enfermos às quatro horas da madrugada. Morreu no dia 04 de julho de 1925, apenas três dias depois de sua avô. As ruas da cidade foram tomadas por pessoas que foram em seu velório lhe render suas últimas homenagens. Muitas dessas pessoas eram pobres e doentes aos quais Pier Giorgio atendeu ao longo de sua vida.

Pier Giorgio foi proclamado Beato no dia 20 de maio 1990, pelo servo de Deus João Paulo II que o chamou de o “Homem das oito Bem-aventuranças”. Observai estas fotografias. Veja aqui como parecia com o homem das oito Bem-Aventuranças, que leva consigo a graça do Evangelho, da Boa Nova.”

Em sua homilia de beatificação o servo João Paulo II assim se referiu ao jovem: “A fé e a caridade, verdadeiras forças motrizes da sua existência,  tornaram-no ativo e operoso no ambiente em que viveu, na família e na  escola, na universidade e na sociedade; transformaram-no em alegre  entusiasta apóstolo de Cristo, em apaixonado seguidor da sua mensagem e  da sua caridade.”

Pier Giorgio é um extraordinário testemunho para os jovens. É referencia segura para aqueles que querem viver uma vida intensa de amor a Cristo e aos próximos. Seu exemplo deve ficar em nossa mente para que nossos atos possam se nos espelhar dele, que são reflexo evidentes de sua intimidade com Cristo! Tomemos o exemplo dele e faça dê a sua vida um sentido novo. Um sentido feliz que somente o encontro pessoal com Cristo pode nos proporcionar.

 

BIOGRAFIA:

FRASSATI, Luciana. Pier Giorgio Frassati: los días de su vida.  Madrid: BAC Popula, 1996.

 * Nosso colaborador,grande entusiasta de Pier Giorgio Frassati