Pier Giorgio Frassati,meu amigo.

Pier Giorgio de chapéu com seus amigos.

 

Rafael Taniguchi*

Peço perdão à Tradição Apostólica e que me corrija o Sagrado Magistério se o que disser estiver eivado de erro, mas sempre considerei, pelo nada que sei do Tudo, que uma das características mais fascinantes do Bom Deus é Seu exagero. Penso, por simples questão de experiência, que a Divina Pessoa do Senhor é exagerada… Que tal asserção, pelo Amor dEle, jamais possa soar como blasfêmia, mas como pura declaração do meu claudicante amor de filho perdulário. É que enxergo, com bastante clareza, esse exagero na criação. O sol, por exemplo, não precisava ser tão brilhante nem tão quente; o mar não precisava de tanta água nem a terra, de tantas montanhas. Não há necessidade alguma de tantos desertos e tantos grãos de areia neles. Qual a razão de tantas florestas, tantas árvores, tantas folhas nas árvores? Precisava haver um bendito pôr-do-sol totalmente único todo santo dia? E o universo!? Que excesso de grandeza! Tantas estrelas, tantas galáxias, tanta distância!

Vejo, igualmente, os exageros da atuação do Bom Deus na história dos seus eleitos: Abraão não precisava de tantos filhos; Isaac e Jacó, de tantos bens. E aquele exagero todo que o Senhor fez com Moisés? Para que abrir o mar daquele jeito exorbitante? Bem que o povo podia fazer a travessia em embarcações ou, sei lá, por outra opção mais viável. E que história excêntrica é esta do Josué parar o sol? Davi, também, não precisava de tanto poder militar nem Salomão, de tanta prosperidade! Nossa Mãe Maria Santíssima precisava ter o coração tão humilde, tão sábio, tão prudente, tão clemente? Ela bem que poderia ao menos responder um “oi” diante da saudação angelical, já que se tratava de anjo e não de serpente, mas a prudência foi mais que absoluta. Ela poderia ter ficado descansando em casa, como Eva estava à sombra da árvore da vida, ao invés de sair correndo para ajudar a prima idosa – um gesto de insuperável humildade para alguém que acabou de ficar sabendo que é Rainha. Porque ela pediu para o Seu Filho antecipar a hora do próprio Bom Deus se os noivos das Bodas de Caná nem reclamaram com ela da falta de vinho? Com razão o Senhor indagou: “Mulher, porque te intrometes?”. Intrometeu-se porque é observadora silenciosa e há tanta clemência na Nova Mulher, que ela se antecipa à falta de vinho de que padecem nossas vidas e intercede antes mesmo de sabermos de nossas necessidades. Que exagero de Mãe o Bom Deus escolheu para Si e para nós!

Tal Pai, tal Filho, não diz o ditado? O Senhor Jesus patenteia muito dessas demasias tão divinas. Já conheci muita gente pobre, mas nunca um pobre que tenha nascido em um estábulo. Francamente, que pobreza exacerbada! E a adúltera? Na minha opinião, ela merecia, ao menos, uma bronca do tipo:  “olha, fulana, eu aliviei a tua, mas qual é, né? Cria vergonha nesta tua cara!”. Que Misericórdia transbordante aquele “Nem eu te condeno”! Que doçura aquele silêncio não inquisitório, mas revestidor – não quebra uma cana rachada, não apaga uma lâmpada que ainda fumega! Outra coisa: é tarefa difícil entender o Deus onipotente se encerrar em um Homem, submetido à matéria e ao tempo, mas me é impossível sequer intuir a beleza da atitude desse Deus encarnado que se torna amigo íntimo dos homens – lembro-me de João reclinado em Jesus na última ceia. E para que uma morte daquela? O Seu Amor já não seria inconteste apenas pelo fato de ter vivido conosco? O sacrifício de Alguém de natureza tão excelsa ter que se rebaixar tanto para viver com gente do nosso naipe já me parece suficiente para retificar todos os erros da humanidade inteira, mas o Bom Deus preferiu se submeter, Ele mesmo, à nossa morte – o mesmo Bom Deus que se comoveu diante da viúva de Naim! E que morte é essa, a da Cruz? Porque não escolher enforcamento? Envenenamento seria mais fácil, não? (Olha a elegância do Sócrates!) Que exagero de morte, que exagero de feridas, que exagero de dores, que exagero de humilhação…  Há tanta abundância nessas demonstrações que a eternidade não parece ser um “tempo” razoável para que os eleitos da Santa Igreja discriminem e assimilem tamanhas dádivas, de um Deus intangivelmente generoso, que dá muito além do que podemos pedir e imaginar.

A Luz desses exageros magnânimos é mais que suficiente para preencher cada fresta da História, pretérita e futura, e solucionar todos os desentendimentos, toda injustiça, todo desmando. Chove, sobre cada homem deste mundo, mais graças do que ele pode aproveitar. Mas como se não bastassem tantas riquezas e prodigalidades, o Bom Deus ainda insistiu em dar à criatura amada todos os meios de salvação, de elevação, de dignificação de modo que, diante da Justiça, ninguém possa comparecer e dizer: sou ruim porque não conheci a bondade na minha vida. De fato, ao dar As Chaves ao Sumo Pontífice Pedro e instituir Sua Igreja, o Senhor Deus, mais que a faculdade de reabrir as portas do paraíso fechadas a todos por Adão e Eva, entregou-se a Si mesmo: o Seu Corpo, a Sua Misericórdia, a Sua Justiça, os Seus Dons, a Sua Santidade, o Seu Sacerdócio, a fim de que os homens fossem, mais uma vez, uma só coisa nEle, como Ele o é no Pai. E é apenas disso que trata a imensa loucura do cristianismo: sermos transformados, pela Graça gratuita, no Cristo – e o próprio Deus por tabela!

Por isso, com muita razão, os santos dizem crer na Santa Igreja Católica Apostólica Romana, a Nova Jerusalém, a antecipação do Reino dos Céus! Mas dir-nos-iam os experts em história dos clichês: ó, católicos obtusos, vocês não enxergam os erros institucionais! Dir-nos-iam, igualmente, as ressentidas e sempre invejosas viuvonas do comunismo: ó católicos burgueses, vocês são viciados em ópio, incapazes de enfrentar a realidade (detestável auto-projeção). Dir-nos-iam, ainda, os ímpios que se modificam caoticamente como células cancerígenas: católicos idólatras, babilônia, adoradores da besta, vocês deveriam orar e conhecer o jesus-instant-delivery-boy, entregador de bens terrenos e mestre das sensações teofânicas. Mas mesmo os ataques desferidos contra a Santa Igreja Católica servem à pródiga Providência: estimulam o crescimento, aprofundam a consolidação dos Fiéis e, deste modo, apesar de serem detestáveis, as perseguições devem ser vistas não como mera circunstância passageira, mas como prerrogativa basilar do verdadeiro discípulo do único Senhor. Até mesmo os anjos caídos, embora não o queiram, se rendem instrumentos utilíssimos do Bom Deus e nos mostram com grande clareza que nosso único mérito é a Misericórdia Divina. Portanto, não há na alma católica a pretensão de ser imaculável. Nunca cremos que o fossemos (como a mídia, quando nos acusa, acha que ela mesma o é), mas nossos terríveis erros não nos espantam nem um pouco. Nossa liberdade é ferida pelo pecado e nosso único mérito é a Misericórdia!

Esse Mérito da Misericórdia, e só Ele, sustenta a proficuidade misteriosa dos Sacramentos. Desse mérito os doutores haurem o sumo dos dogmas, os luzeiros que iluminam os passos da Divina Esposa. Por esse Mérito se tornam válidos os sacrifícios dos mártires e inocentes e é nele onde a Igreja Militante bebe a saciedade. Pela força desse Mérito, os piores pecados simplesmente deixam de existir quando os réus se proclamam culpados diante do divino Tribunal da Igreja, o Confessionário.  É o fogo desse Mérito que dá vida aos santos e os orna dos dons que atraem nossa veneração. Só esse Mérito repara a verdadeira liberdade do homem e o acorda da anestesia mórbida causada pelo pecado.

Bem, e o que fazem estas minhas divagações no site de P. G. Frassati? Ora, ele me foi instrumento dessa Misericórdia tão larga! Foi por ele que passei a me incomodar com meu comodismo. Frassati foi, para mim, o rosto alegre e jovem dessa Igreja que acabo de mencionar, mas que antes eu julgava ser enfadonha e anacrônica. Ao contrário, ele me inspira a defender corajosamente essa Igreja, a despeito da minha pusilanimidade… Frassati me importunou com a Verdade certeira, com a Meta, com a Direção, apesar dos meus pobres relativismos e contemporizações – quem é amigo de Frassati sabe quão intransigente ele sabe ser. É esse amigo que me ensina a apreciar a verdadeira beleza da criação: ele via, com clareza, o reflexo do Criador nas criaturas e, não servindo a elas, se servia delas para chegar a Ele. Sinto aquele apaixonado “Montagne, montagne, montagne! Io vi amo!” dentro de mim.

Quem, ao conhecer Pier Giorgio Frassati, não se sentiria intimado a lutar até o fim pela verdadeira Vida? Quem permaneceria ileso ao entrar em contato com a vitalidade de sua caridade, de sua ternura, da sua estrondosa jocosidade? Parece-me impossível que alguém não se emocione ao ler determinados episódios da vida de Frassati: suas lutas, seus empenhos, suas renúncias, sua grandeza, sua morte. É claro que ele é uma “baita” inspiração! Para mim, entretanto, ele é muito mais que um exemplo: ele é amigo mesmo, pra valer, daqueles que estão presentes sempre que você precisa ou mesmo quando acha que a presença deles é impertinente. O Frassati esteve presente comigo nas melhores amizades que tive na vida, nos meus momentos mais divertidos… Ele estava lá, também, nas perdas… Está presente nos meus planos e, talvez, se não o tivesse conhecido, jamais saberia o verdadeiro significado da palavra “apostolado”. Nem sei contar quantos amigos ele me apresentou – e olha que ainda não fiz trinta anos…

Pier Giorgio me chama continuamente Para o Alto, mas, além disso, a sua presença amável evoca a intuição daquela Magnanimidade que tentei descrever puerilmente acima… Eu e ele vivemos em uma sociedade agnóstica, em tempos que, ser verdadeiro católico, é tarefa solitária. Como agradeço a esse Bom Deus por ter escolhido Frassati, este sinal exuberante de santidade, para me fazer descobrir o desejo doloroso que tenho do Céu! Que saudades tenho deste Patrimônio que nunca tive, mas irei possuir! Bendita seja, ó Comunhão dos Santos, ó Corpo Uno do Nosso Senhor! Que instrumento salvífico fantástico o de irmãos, o de amigos que se amam! Nem a morte nem o tempo podem destruir esse vínculo! As virtudes dos fortes indulgenciam o vício dos fracos! Mais uma vez, o Senhor nos dá mais do que podemos lhe pedir.

Ó, meu tão querido amigo do Céu, Pier Giorgio Frassati! Perdoe-me pelos excessos e se mudei mil vezes de estilo ao tentar escrever sobre você, mas trata-se apenas da tentativa pífia de responder a tanta Bondade! Como nosso Senhor é Bom! Como é Grande!!! Brado contigo e com Santa Catarina: Jesus Doce, Jesus Amor! Essa maravilha que eu sinto não é ainda o Céu? Não consigo imaginar, então, o que seja! Pier Giorgio, amigo daqueles que não tem amigos, obrigado pela força da tua vida! A vida que não é tua, mas dEle! É Ele mesmo quem vive em você agora e, por essa razão, você está tão vivo quanto estava nas excursões às montanhas! Meu querido amigo, ajuda-me a alcançar o arrependimento verdadeiro! Auxilia-me a subir esta montanha tão difícil e a lutar incansavelmente pela Verdade de Cristo! Meu virtuoso Amigo dos pobres! Atleta do Reino de Deus! Anima-se muito o fato de que, quando chegar ao Alto, estaremos juntos a contemplar, naquele ar puro da Glória a que fomos destinados, a Grandeza do Criador! Obrigado, meu amigo Pier Giorgio!

Bendito seja o Senhor nos seus anjos e nos seus santos!

*Psicologo e grande entusiasta de Pier Giorgio.

 

Canadá, “a castidade é um projeto de vida”.

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Sobre a relação consigo mesmo e com os outros, a nova carta pastoral dos bispos americanos aos jovens. Os exemplos de Frassati e Tetakwhitha.

Canadá. A castidade é um “projeto de vida” que pode se realizar nos diversos momentos da existência, quando se está sozinho, mas também no matrimonio, em uma atitude de profundo respeito a si mesmo e aos outros. Os bispos canadenses escreveram uma carta pastoral aos jovens intitulada como “Castidade”, onde afirmam que, “em uma cultura que busca a satisfação imediata, a castidade ensina a esperar”. Hoje, revela o texto, é vigente uma definição de vida que vê a castidade com “preconceito” e a pressão social ensina princípios da satisfação imediata e do “consumo do corpo”, que são “contrárias à dignidade da pessoa”. A “castidade é um desafio, mas não impossível”, se for acompanhada de oração e de direção espiritual. Também deve ser vivida no interior do matrimonio, numa atitude de respeito recíproco que os cônjuges devem ter para com as expectativas e as necessidades um do outro. O texto indica aos jovens “uma estrada viável”, propondo “não proibições, mas uma visão positiva de relacionamento consigo mesmo e com os outros”, sublinhou Michael Miller, arcebispo de Vancover, responsável pela Comissão que preparou a carta, aprovada e publicada dois dias após a Conferência Episcopal. “Estou seguro – acrescentou o Arcebispo – que os nossos jovens serão capazes de receber os conteúdos deste texto e fazerem-se porta-vozes entre eles e os de sua geração”. O texto da carta também é acompanhado de listas que apresentam alguns santos, exemplos de vida cristã, para torná-los mais conhecidos aos jovens. O primeiro da galeria é Santo Agostinho, acompanhado da beata de origem indiana Kateri Tetakwitha, que viveu no século XVII e dois italianos: o beato Pier Giorgio Frassati e santa Gianna Beretta Molla. Pela primeira vez foi colocada uma dedicação particular na apresentação, realizando também um vídeo explicativo, preparado do canal televisivo católico “Salt+Light” (sal+luz), com a proposta dos exemplos positivos de vida cristã. Fabrizio Mastrofini

Quem somos?

Eduardo Henrique é profundo conhecer e entusiasta da vida e espiritualidade de  Pier Giorgio Frassati.
Possui uma grande coletânea de biografias e material sobre Pier Giorgio o que levou juntamente com Victor Melão, programador de web site na criação do primeiro site sobre Pier Giorgio Frassati no Brasil

 

Colaboradores

 

Associação Pier Giorgio Frassati- Roma.

Reprodução dos textos.

Pedimos que ao ser utilizado nosso material seja informada a fonte.
Para solicitação de material.
piergiorgiofrassati6@gmail.com

Pier Giorgio Frassati: Característica de sua personalidade

João Piasentin,sss*

Vida vivida em Cristo com inflexível disciplinar interior,com determinação inabalável,

com alegria contagiante e vibrante comunicação eclesial.

Inteligente,tinha agudo senso de discernimento para analisar eventos e coisas à luz do evangelho e enfocara seus valores na prática da vida,ciente de que o cristão não é aquele que tudo tem,mas aquele que tudo prodigaliza em favor dos pobres.

Definiu-se pelo amor ao Cristo Eucarístico e aos pobres.

Sua ação partia do amor e no amor se realizava por um impulso interior que o envolvia

Até o cerne da personalidade.

Suas escolhas foram sempre ditadas pelo amor apaixonado ao Cristo e aos pobres,em

favor dos quais sabia renunciar a muitas coisas.O amor estabelecia-lhe código e percepções que se rebelavam ao espírito mundano da classe à qual pertencia.

Seus propósitos sempre nítidos e seus conceitos sempre claros expressavam-se pelo registro ineludível das retas intenções de uma conduta sem fingimentos,fiel ao Evangelho e à Igreja.Jamais se deixou enclausurar no comodismo religioso favorecido pela posição social da família.

Sua fé era tão radical que o empenhou até nas lutas políticas para a defesa dos valores cristãos.Certa vez ,vitima da violência até física,com serenidade desarmou os adversários bradando:”Vossa violência jamais poderá superar a força da nossa fé,porque Cristo não morre!”( Marcha de Roma)

Seu comportamento foi a busca da verdade,da definição e da clareza em consonância com o Evangelho e as diretrizes da Igreja.Tinha uma visão precisa do homem,senhor de suas idéias e não escravo de preconceitos,caminho para o imobilismo.

Sua luta –Mergulhou nas lutas sociais do tempo com profunda tomada de consciência da defesa dos valores cristãos.

Sua Igreja palpitava em sua vida como membro vivo e atuante do Corpo Místico.Jesus Eucarístico foi a força motora da sua caminhada,o anseio apaixonado do seu coração,a forma de sua espiritualidade.

O Espírito Santo fazia-o crescer no raio luminoso da Graça cujas filigramas marcavam suas atuações sob impulso de uma fé pujante que lhe fazia transcender o perigo da mediocridade religiosa do ambiente.

Identificou-se com a missão de servir Cristo nos pobres e no apostolado,investindo-se nela com toda a intensidade de suas forças.Inteligência e amor,lealdade de conduta e ideário evangélico dinamizaram sua atividade caritativa e apostólica com definições coerentes de fé e realizações de amor.

*É sacerdote Sacramentino.

Fragmento do seu livro:

Eucaristia e Pobres:Bem Aventurado Pedro Jorge Frassati.

A ”conquista” da santidade

De 1932 até hoje: a história do longo e árduo caminho da causa de beatificação reconstruída através de documentos, testemunhos e atos oficiais

Pier Giorgio Frassati, beato. A Igreja o indica como modelo de vida cristã. Faz isso oficialmente, a 65 anos de sua morte. Antes de colocar alguém sobre os altares, a Igreja cumpre acuradas pesquisas, exigindo, como confirmação divina do julgamento humano, as provas de um ou mais milagres. Em resumo, procede com pés de chumbo: um justo exercício de prudência. As pessoas, porém, querem os caminhos mais curtos. A fama de santidade de Pier Giorgio desabrocha no próprio dia de seus funerais, 6 de julho de 1925, em Torino. A respeito anota sua irmã, Luciana Frassati: “A rua, eram 9 da manhã, quase não continha as milhares de pessoas que acorriam de todos os lados da cidade. Aos muitos que já se tinham alternado pelos quartos de casa e que quiseram misturar suas lágrimas às nossas, se juntava agora a maré incontrolável de uma turba de desconhecidos, velhos e jovens, pobres e ricos.” A turba à qual se refere Luciana Frassati tem o semblante dos amigos de Pier Giorgio; dos indigentes que ele conheceu em sótãos insalubres, ajudando-os; tem a memória de quantos lembram sua caridade nutrida de fé pura.
Em 2 de julho, o então arcebispo de Torino, cardeal Maurílio Fossati, abre o processo informativo ordinário. Até 23 de outubro de 1935, em 232 sessões, são ouvidas 25 testemunhas (mas não sua irmã, inexplicavelmente), em parte convocadas pelo postulador da causa, o salesiano D. Francesco Tomasetti e em parte pelo Tribunal eclesiástico, chamado a cuidar do “caso pier Giorgio”. O material coletado foi enviado para Roma. E em Roma, na Santa Sé, entre 1937 e 1939, escrevem 6 cardeais, numerosos bispos, superiores de institutos religiosos, reitores de universidades, dirigentes de movimentos e associações, homens e mulheres simples. Todos pedem uma única coisa: “Proclamem santo a Pier Giorgio. É um exemplo para se imitar.”
Alguma coisa, porém, não dá certo. Em dezembro de 1941chega ao Vaticano uma citação “reservadissima” e anônima. Alguém coloca duvidas a respeito da integridade de conduta de Pier Giorgio fazendo referencia a um passeio feito na companhia de amigas no parque turinese de Valentino, jogando sombras sobre as excursões pelas montanhas organizadas junto com outros rapazes e moças e acenando, enfim, a uma afetuosa simpatia de Pier Giorgio nos encontros com a senhorita Laura Hidalgo. Tratam-se de insinuações, de falatórios. Nada de mais. Pensando-se hoje nas preocupações de então, nos vem um sorriso. Um passeio, à luz do Sol, em um parque; excursões programadas e feitas em grupo, de forma despreocupada, certo, mas moralmente séria; apaixonar-se por uma moça: todas coisas normais, normalíssimas. E bonitas.

Controvérsias esclarecidas

A “denúncia” influiu negativamente no voto da Sagrada Congregação dos Ritos, que naquela época cuidava também das causas dos santos: sete membros são a favor de Pier Giorgio, 5 pedem para confirmar o parecer após ulteriores acertos, um deles diz de pronto ser contrario a ver o jovem turinese indicado como modelo. A palavra passa ao Papa, Pio XII, o qual pede (12 de dezembro de 1941) que primeiro se prossigam as averiguações (“dilata et ad mentem”) e depois (4 de junho de 1944) dispõe o “reponatur”, ou seja, o arquivamento, confirmado ainda em 15 de janeiro de 1945 (“non expedire”). A causa, então, é bloqueada. As dificuldades, surgidas como conseqüência de suposições e não de provas, parecem não ter solução.
Passa também o furacão da Segunda Guerra mundial. Entre 1949 e 1951, a irmã, Luciana Frassati, colhe, por iniciativa própria, 900 peças, entre documentos, declarações, testemunhos. Um trabalho precioso o seu. Conclui toda a busca em uns vinte dossiês e informa ao Vaticano o que fez. Giovanni Battista Montini, então substituto junto à Secretaria de Estado, em 2 de julho de 1951, sob disposição de Pio XII, pede ao pro-prefeito da Sagrada Congregação dos Ritos, cardeal Clemente Micara, de confiar a um consultor a incumbência de examinar se a documentação da sra. Frassati era tal que justificasse o consentimento da reabertura da causa de beatificação de Pier Giorgio. A delicada tarefa foi dada a um franciscano conventual, padre Gaetano Stano, o qual a 22 de janeiro de 1953, com um relatório de 40 páginas datilografadas se diz substancialmente favorável à reabertura da causa, ainda que, precisa ele, “um julgamento adequado e conclusivo poderia ser dado apenas com a validação integral de todos os documentos recuperados”, cobertos naquele momento por uma cortina de segredo impenetrável também para ele, segredo que torna inexplicável o soterramento do processo de beatificação.
A obra da sra. Frassati e do padre Stano esclarecem todavia os pontos de controvérsia, do inocentissimo passeio (descobriu-se que do passeio ao Valentino participaram sete jovens, cinco rapazes e duas moças, e se confirma que na época Pier Giorgio tinha 14 anos), das excursões pela montanha, ao amor (intenso, puro, nunca declarado) por Laura Hidalgo.

O afeto por Laura

Giovanni Battista Montini torna-se Papa com o nome de Paulo VI. Em 1965, os salesianos, através de uma petição, pedem ao cardeal Arcádio Larraona, prefeito da Sagrada Congregação dos Ritos, o desbloqueio da causa. O cardeal, com uma carta datada de 18 de agosto de 1965, encarrega o jesuíta turinese padre Paolo Molinari de desenvolver uma investigação complementar que foi concluída em 17 de abril de 1967. O material recolhido por pe. Molinari é muito significativo: serve não apenas para dissolver qualquer dúvida, mas mais ainda, coloca em evidência a riqueza cristã de Pier Giorgio.
Solicitado hoje a falar sobre aquela sua investigação, pe. Molinari, com um educado ‘sem comentários’, prefere respeitar a reserva pedida então pelos vértices da Igreja. ”Posso dizer que as dúvidas foram todas dirimidas porque todas são absolutamente sem fundamentos”, afirma. Devemos nos perguntar se não havia malevolência no que dizia respeito ao jovem turinese, malevolência que encontrou sua “obra prima” na voz, falsa, colocada para circular não se sabe por quem, de se ter encontrado o corpo de Pier Giorgio em atitude descomposta, desesperada.”
Todas bobagens sem sentido. Algumas palavras pe. Molinari usa para falar sobre o afeto de Pier Giorgio por Laura Hidalgo: “É a meu ver uma das condutas mais heróicas de Frassati. Temia que o seu eventual noivado com a Hidalgo pudesse provocar, por vários motivos, o rompimento do casamento de seus pais. Antes de se tornar obstáculo ao vínculo sacramental de seus pais, renunciou voluntariamente ao seu sonho pessoal de amor.”

O desejo do Papa

O clima geral, se compreende, melhorou notadamente. Mas não aconteceu nada de novo até 1974. A 21 de agosto daquele ano, o cardeal Giovanni Villot, secretario de Estado, pede ao Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos (agora separada daquela dos Ritos) para reexaminar atentamente o capítulo referente à Pier Giorgio: “É um desejo do Papa”, especifica. Finalmente cai o segredo. Todos os documentos coletados até então podem ser estudados por quem de dever (é encarregado novamente pe. Gaetano Stano). E o próprio pe. Stano, em 15 de novembro de 1976, apresenta as suas conclusões: “O abaixo assinado anuncia que os resultados das indagações trouxeram a desejada luz sobre os fatos duvidosos em questão, e portanto, dissipada qualquer dúvida sobre a retidão moral de Pier Giorgio Frassati, não vê que outro preventivo obstáculo pudesse impedir o desenvolvimento de uma causa cuja positiva relevância obteve tão numerosos e sérios reconhecimentos.” Em 20 de janeiro de 1977, Paulo VI remove o “reponatur” que se arrastava desde 4 de junho de 1944, decretando ao mesmo tempo o “procedatur ad ulteriora”.

Depois de 33 anos, o processo de beatificação se coloca lentamente em movimento. A irmã, Luciana Frassati, intensifica os contatos com padre Molinari, ao qual pediu ardorosamente que se ocupasse da causa. Em 20 de junho de 1977 a Ação Católica Italiana assume o papel de “atora”, ou seja, aquela que desejando profundamente a beatificação de Pier Giorgio, promove as ações

Uma cura impossível

O milagre aconteceu em S. Quirino, Friuli, pouco afastada de Pordenone, a 28 de dezembro de 1933. Domenico Sellan, classe 1892, já ferido nas costas durante a Primeira Guerra mundial, desde o dia 20 de setembro daquele ano, era obrigado a ficar na cama devido a uma séria lesão da primeira e segunda vértebras lombares. A sua cruz era chamada mal de Pott. Escreveu, a propósito, o seu médico, Dr. Dionísio Sina: “O Sellan perdeu completamente a sensibilidade dos membros inferiores, com repetidas manifestações de meningismo, constantes perdas de memória e dores de cabeça lancinantes. Examinando-o, constatei o agravamento do mal de Pott que traria como conseqüência a paralisia completa das pernas.”

Na manhã daquele 28 de dezembro de 1933, o então pároco da cidade, d. Pietro Martin, visitou Sellan, entregando-lhe uma pequena imagem de Pier Giorgio Frassati. Ficou com ele até a noite. “Ele”, contou o pároco, “quis imediatamente se confessar e quis que lhe trouxessem o viático. Sentiu imediatamente a recuperação de suas forças e com vivo fervor indicou de imediato como autor de tanta graça Pier Giorgio Frassati. As pernas voltaram a sustentá-lo. Vi-o muitas vezes descer da cama e subir as escadas com desenvoltura.”

Como havíamos documentado um ano atrás, no numero 7/’89 da Família Cristã, existem todos os elementos para falar da graça recebida: por um lado, uma cura definida como ‘impossível’ pelos médicos; por outro, a melhora clara, imediata, duradoura. Domenico Sellan (casado e com filhos), depois do prodigioso acontecido, por muito tempo não teve problemas dignos de nota. Morreu dia 17 de janeiro de 1968.

necessárias para tal. A primeira é a escolha do novo postulador. É nomeado o jesuíta padre Paolo Molinari. Em 12 de junho de 1978, papa Montini ordena que seja emitido o decreto sobre a Introdução da Causa. Recomeça-se. Depois se torna vice postulador o religioso Gustavo Luigi Furfaro, dos Irmãos das Escolas Cristãs fundadas por S. Giovanni Battista De La Salle.
O processo apostólico sobre as virtudes se desenvolve junto à Cúria Diocesana de Torino de 16 de junho de 1980 a 29 de julho de 1981. O Tribunal constituído pelo arcebispo, cardeal Anastásio Ballestrero, reúne-se 69 vezes, ouve cerca de 30 testemunhos e em 31 de março de 1981 se cumpre, muito importante, o reconhecimento canônico dos restos mortais de Pier Giorgio. Conta irmão Gustavo Luigi Furfaro: “Encontramos intactos os lacres colocados na caixa mortuária antes que o corpo fosse transportado ao cemitério de Pollone, província de Vercelli, para o sepultamento. O corpo de Pier Giorgio, estava intacto e composto. Nos lábios, um sorriso.”
A palavra passa novamente para Roma. Em 24 de janeiro de 1984, eis a nomeação do “relator” da causa na pessoa do jesuíta pe. Peter Gumpel. Sob sua direção, o postulador pe. Molinari redige a “Positio”, ou seja, “o estudo” da vida, das atividades, das virtudes de Pier Giorgio. Baseando-se, por sua vez, em dois grandes volumes da “Positio”, tratados com escrúpulos histórico-científicos, os teólogos e os cardeais preparam um parecer para o Santo Padre. Em 23 de outubro de 1987, depois da conclusão do Sínodo sobre os leigos, João Paulo II, devidamente informado, ordena que se lance o decreto sobre o heroísmo das virtudes de Pier Giorgio que se torna portanto, Venerável.

Os documentos do milagre

Para que o jovem Frassati se torne Beato deve-se encontrar e documentar um milagre. Em 28 de dezembro de 1988, a irmã de Pier Giorgio, Luciana, descobre providencialmente na casa dos Frassati, em Pollone, toda a documentação relativa à cura do mal de Pott do friulano (N.T.: nativo da cidade de Friuli) Domenico Sellan, cura ocorrida, dizia-se, milagrosamente, no dia 28 de dezembro de 1933 (falaremos a respeito à parte). “A redescoberta dos documentos aconteceu no mesmo dia do milagre, 28 de dezembro…” realça irmão Gustavo Luigi Furfaro.
O processo canônico referente ao presumido milagre abre-se na Cúria, em Torino, a 24 de janeiro de 1989, e conclui-se após apenas 6 dias, no dia 30. No dia seguinte, 31 de janeiro, o relato sobre a milagrosa cura do Sellan foi assinado pelo cardeal Anastásio Ballestrero: é seu último ato oficial; às 12h desse dia, o cardeal Ballestrero termina seu mandato pastoral de arcebispo de Torino. Irmão Gustavo corre para Roma e entrega o dossiê à Congregação para as causas dos santos. Os médicos antes (26/4/1989), os teólogos depois (30/6), e enfim (3/10) os cardeais participantes da Congregação vaticana citada acima, se dizem de acordo: o sr. Domenico Sellan readquiriu a saúde de modo rápido, completo e inexplicável de fato graças à intercessão de Pier Giorgio, para quem havia orado.
Em 21 de dezembro do ano passado foi assinado o decreto oficial no qual se reconhece que verdadeiramente existiu um milagre. A essa altura ficou certo. Pier Giorgio Frassati será proclamado beato.
Alberto Chiara

“Não entendemos logo a sua grandeza”

Fala a irmã Luciana. E de suas lembranças emerge o Pier Giorgio do dia a dia. “Descobrimos a sua plenitude cristã apenas depois da morte.” Tantos exemplos de generosidade.

Quem era Pier Giorgio para a senhora? Luciana Frassati faz um sinal para que esperemos um instante. Levanta-se da poltrona de sua sala turinese e pega um papel. São cinco linhas datilografadas ao todo. Eis, transformada em poesia pela irmã, a figura do jovem que colocou vontade, engenho, alegria, a serviço de Deus e do próximo: “Para mim você é dias, minutos e horas/ de um horizonte de espaço e tempo/cuidadoso ao lançar ramos frondosos /sobre estradas áridas de enganos onde jaz /a urna ardente de quem não amou”. “Sabe,“ explica, “compus estes versos recentemente. Pier Giorgio para mim significa um afeto forte, renovado, significa compreensão, segurança.”
A sra. Luciana tem quase 88 anos. Nasceu em 18 de agosto de 1902, em 24 de janeiro de 1925, casou-se com o diplomata polonês Jean Gawronski, viajando com ele por todo o Velho Continente e tornando-se mãe de sete filhos, (entre os quais o jornalista e euro deputado Jas). Escritora, poetisa, historiadora de Pier Giorgio; Luciana é a sua mais atenta biógrafa. Publicou numerosos livros sobre sua vida, sua fé, sobre sua caridade, sobre seu empenho sóciopolítico. Pacientemente coletou e enviou á imprensa as cartas de seu irmão.
“Fiz isso para entender”, assegura.” Sim, para entender como foi possível que Pier Giorgio tenha se tornado o Pier Giorgio Frassati hoje conhecido por todos. É verdade, em família, descobrimos a plenitude cristã após a morte. Pessoalmente nunca suportei certos retratos inexpressivos de meu irmão que, especialmente no passado, a cavalo entre as duas guerras mundiais, não demonstravam nem valorizavam sua inteligência, o seu completo envolvimento nos acontecimentos da época. Não, Pier Giorgio não tinha uma personalidade insípida.” E para prová-lo, a sra. Luciana levou mais de 50 anos rastreando uma santidade revestida de naturalidade.
Senhora ajude-nos a conhecer o Pier Giorgio de todos os dias… ”Fomos educados de forma austera. Era costume, na época. ”O amor dos pais pelos filhos e vice-versa existia. Sem dúvida. Porém, os relacionamentos dentro dos muros domésticos eram caracterizados por pouco calor, sempre, todavia, acompanhados por um grande respeito. “Ainda que, para falar a verdade, eu muitas vezes tratava papai com muita familiaridade: com ele brincava, aprontava tudo a que tinha direito”, afirma a senhora Luciana.
“Pier Giorgio, em casa, falava pouco ou nada sobre suas idéias, suas atividades externas”. Mas com a senhora trocava confidencias, não é verdade? ”Sim. Éramos muito unidos. Tinha-se formado uma espécie de cumplicidade devida, entre outras coisas, os termos percorrido juntos quase todo o caminho escolar (elementares, ginásio, liceu)” Luciana Frassati não esquece: “Ele repetiu duas vezes em Latim, eu apenas uma.” E acrescenta:” Nós nos protegíamos. Se na aula alguma coisa não andava direito com algum dos dois, o outro não falava nada para o papai e a mamãe.”
Continuemos explorando as recordações da irmã. “Não se pode deixar de mencionar sua saúde de ferro. Teve varicela. Mas depois, nem uma dor de cabeça, nunca um sinal de cansaço, mesmo se acontecia de dormir pouco. Uma vez o fiz zangar-se. Estávamos em Sauze d’Oulx, no inverno. Junto com meus amigos, não fui à Missa, indo passear de esqui. Ele me repreendeu, furioso. Um episodio isolado. Sempre me cobria de atenções, delicadezas. Quando andávamos de bike, ao fim de uma subida, ele me esperava sempre. Num dia de carnaval, passamos de trem por Ivrea. Parados na estação, acheguei-me à janela: um rapaz atirou um punhado de confetes em meu rosto. Pier Giorgio revoltou-se. Para ajudar-me atirou-se na água, em Forte dei Marmi, o dia em que o barquinho em que eu estava foi virado pelas ondas altas, jogando-me na água… Eh, a natureza. Ele preferia a montanha. Era um exímio alpinista. Eu privilegiava o mar.
“De certas atitudes suas entendi o real significado apenas mais tarde, após sua morte”.
Poderia nos dar algum exemplo? “Acontecia de vê-lo voltar para casa suado e muito agitado. Tinha, evidentemente, corrido para chegar na hora do almoço ou do jantar (nosso pai fazia questão da pontualidade). “O que será que ele aprontou para ficar desse jeito?”pensava. Com o tempo, depois de seu desaparecimento, descobri que passava horas ajudando os pobres de Torino, esvaziando seus bolsos com eles e ficando sem dinheiro para a condução.
Não recordo um ato mesquinho, uma malvadeza. Por caridade! Sabia rir e brincar. Mas sempre com discrição, com medidas. Quando ele estava, nas conversas em grupo, eram evitados sempre assuntos fúteis e palavras pouco polidas. Era generoso. E atencioso. No dia 15 de julho de 1923, quando me formei em Direito (com nota máxima e louvor), foi o único que me deu um presente. Meus pais me ofereceram um sorvete na Baratti e Milão. Ele chegou com uma cópia da vida de Santa Catarina de Siena de Joergensen. Li no bilhetinho que acompanhava o presente: “À boa e querida irmã, no dia de sua formatura, este livro, para que lhe sirva de guia no caminho de ascensão à perfeição espiritual”.

Créditos: Alberto Chiara

Urna que contém as relíquias de Pier Giorgio-Duomo de Torino

Pier Giorgio Frassati – “ Verso l`alto”

Maria Elisa de Oliveira  *

Conheci   Pier Giorgio Frassati, jovem italiano de Turim, filho de embaixador, morto em 1925 com apenas 24 anos de idade e, proclamado beato pelo papa João Paulo II em 1990 , por meio de um outro jovem  –  Eduardo Henrique da Silva, esse último, bem brasileiro , paulistano de nascimento.

Nossa amizade, que permanece até hoje, começou num curso de Teologia, em 1994 pouco depois da beatificação de Pier Giorgio. Na ocasião, Eduardo já revelava uma grande devoção e admiração pela vida de santidade deste jovem italiano cuja marca sempre fora o esquecimento de si mesmo, em benefício dos mais pobres  .

Contudo, sua devoção ia mais longe e já naquela época, Eduardo procurava por todos os meios, divulgar o nome de Píer Giorgio entre nós. Esse esmero incansável na divulgação da vida de santidade do jovem italiano não se limitava e ainda não se limita apenas ao Brasil  mas, vai em busca de outras fronteiras.

Aos poucos, a partir das leituras de livros , comentários e biografias sobre a vida de Pier Giorgio Frassati, cedidos por Eduardo, fui conhecendo os ideais que moviam o coração deste jovem beato e seu envolvimento responsável com a Igreja Católica, ao mesmo tempo que me comovia com sua devoção ao Santíssimo Sacramento e os grupos marianos.

O Curso  de Teologia, com a duração de dois anos permitiram, pela estreita e assídua convivência, que eu pudesse acompanhar um processo que ainda hoje se dá, de entrelaçamento e feitura de almas, na busca pela santidade, entre esses dois jovens, tão distantes no tempo, lugar e na condição social e, me agrada nomeá-los juntos  –  Píer Giorgio Frassati e Eduardo Henrique .

Nossas conversas diárias giravam quase sempre em torno da vida de doação de Píer Giorgio, que   aliás Eduardo conhece em detalhes, fruto de suas incansáveis pesquisas, a ponto de dar a impressão, por vezes, de que ele próprio o acompanhara em diversas ocasiões.

Todo esse amor e admiração pela vida do jovem beato ganhava mais cores quando, geralmente aos sábados, após as aulas íamos alegres ao encontro da irmã Luiza Angélica Mortari, de alma extraordinária e, que entrara no Mosteiro da Visitação, no bairro da Vila Mariana em  São Paulo, com apenas dezesseis anos, vindo a falecer em 2007 ,  em odor de santidade.

Soube mais tarde que Eduardo ganhara da referida irmã um exemplar do Jornal l `Osservatore Romano e nele, tomara conhecimento de uma foto estampada de Píer Giorgio no esplendor de sua juventude. Bastou esse imagem para que o interesse de Eduardo pela vida do jovem italiano se acendesse como uma chama ardente que se mantém alta e vigorosa,

A partir daí, a vida e a missão desse jovem brasileiro se concentrou em difundir a vida de heroísmo cristão de Píer Giorgio. Inúmeros mosteiros e conventos em solo brasileiro que  possuem em suas dependências imagens e resumos dos principais feitos desse jovem beato são o resultado do seu trabalho infatigável de divulgação.

Nomeio, em especial, o Mosteiro Cristo-Rei   das Dominicanas de São Roque em São Paulo que na pessoa da monja, Madre Carmem Dulce da Santíssima Trindade- Marcondes Machado-, amiga de Heitor Villa Lobos e professora de música da Faculdade Santa Marcelina, Eduardo sempre encontrou apoio e incentivo na divulgação da vida de Píer Giorgio Frassati.

Do rico tecido, por sua vez,da curta existência do jovem italiano, gostaria de ressaltar, ao menos, dois traços: o convívio e a amizade e sobretudo a sua contagiante alegria de viver (la gioia de vivere) de que dão testemunho todos que com ele tiveram o privilégio e sobretudo a graça de compartilhar de seus ideais e construção do Reino. Luciana Frassati sua irmã, soube como ninguém  revelar estes dois aspectos, em detalhes.  Numa obra de sua autoria e traduzida para o espanhol – Píer Giorgio Frassati: los dias de su vida, o leitor pode acompanhar as iniciativas de Píer Giorgio sempre afeito ao contato com os outros, aos grupos de jovens e sociedades, como meios para fazer o bem e praticar a caridade “sem que os participantes tivessem plena consciência disso” como comenta sua irmã. Amante do alpinismo, sempre que pode Píer Giorgio manifesta sua preferência pelas montanhas – lugar ideal para as reuniões com os amigos. O importante era encontrar oportunidade para estar juntos sob a inspiração de uma fé cristã. E, mais uma vez, é sua irmã que comenta, o jovem italiano encontrará na alegria e no sorriso, as armas perfeitas para reunir participantes tão distintos entre si. As excursões montanhesas se revelariam, ainda sob as anotações de Luciana, ocasiões preciosas para desenvolver o espírito fraternal e comunitário sempre com o cuidado de não permitir uma excessiva intimidade.

Com estas qualidades e outras que não caberiam em mil páginas, Pier Giorgio Frassati foi considerado por João Paulo II , patrono e guia espiritual da juventude acadêmica, dos jovens universitários de nosso tempo e fonte de inspiração dos jovens leigos.

* Professora aposentada da Unesp – campus de Marília/SP, Mestre em Filosofia pela PUC/SP e atualmente docente da Faculdade de Filosofia de São Bento/SP.

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