No volume “O Paraíso” do padre Angelo Arrighini, O.P., publicado em 1942, lê-se este epitáfio:
AO VENERÁVEL MEU DISCÍPULO E AMIGO PIER GIORGIO FRASSATI QUE COM O NOME DE FREI GIROLAMO CONSAGREI NA ORDEM TERCEIRA DOMINICANA DO CÉU, ONDE JÁ COMO ESTRELA RESPLANDECE, ENQUANTO NA TERRA SE LHE PREPARA O ALTAR, ESTE LIVRO, TÃO DESEJADO E PEDIDO A MIM AFIM DE QUE O ABENÇOE E DIFUNDA, DEDICO.
E como nasceu o livro, o próprio Autor o diz na introdução:
“Pode-se bem dizer que este livro sobre o Paraíso me foi pedido e inspirado por quem já se encontra no Paraíso. Entre todos aqueles jovens queridos, em sua maioria estudantes, destacava-se pelo zelo, pela piedade e também pela alegria, o então jovem de vinte anos Pier Giorgio Frassati. Uma especial admiração pelo ardente e combativo Frei Girolamo Savonarola — cujo nome quis depois assumir — o havia atraído também para a nossa Ordem Terceira, da qual eu mesmo tive a graça de revesti-lo com o escapulário branco. E com o nome e o hábito de Savonarola pode-se bem dizer que ele também recebeu aquele ardente e intrépido zelo apostólico que, se conduziu o primeiro à fogueira, está agora prestes a elevá-lo ao altar. Um dia ele veio justamente à minha cela pedir-me um livro de meditação sobre o Paraíso.”
(Do livro “Calendário de uma vida. 1901-1925. Pier Giorgio Frassati”, organizado por Luciana Frassati)
Desde o Papa Paulo VI até o Papa Francisco, e agora o Papa Leão XIV, os Papas têm olhado para a vida do Bem-aventurado Pier Giorgio Frassati e visto mais do que apenas uma biografia inspiradora. Eles reconheceram nele um retrato vivo da santidade — uma santidade que não é reservada a poucos extraordinários, mas possível para cada um de nós.
O Papa Paulo VI o chamou de jovem de “frescor interior” cuja força vinha da comunhão com Deus. São João Paulo II o saudou como “o homem das oito bem-aventuranças”, um título que captura como Pier Giorgio fez do Evangelho seu plano de vida pessoal. O Papa Bento XVI o apresentou como modelo para os jovens, exortando-os a imitar sua coragem em dar testemunho da fé.
O Papa Francisco frequentemente repete o desafio de Frassati de “viver, e não apenas sobreviver”, e o Papa Leão XIV lembrou recentemente à Igreja que “ninguém nasce santo” — a santidade é forjada, como foi para Pier Giorgio, nas pequenas escolhas da vida diária.
Quando os Papas falam de Pier Giorgio, eles não estão apenas homenageando um jovem santo do passado. Eles estão apontando um caminho que também podemos trilhar. A santidade, nos dizem, não consiste em escapar do mundo, mas em engajá-lo com alegria, oração e amor abnegado. Pier Giorgio escalou montanhas, riu com amigos, serviu os pobres e defendeu a verdade. Ao fazer isso, mostrou que os altos da santidade estão ao alcance de quem estiver disposto a dar um passo fiel de cada vez.
Sua vida é um espelho no qual podemos ver o santo que somos chamados a nos tornar. Os Papas o viram. Agora, é a nossa vez de acreditar.
Papa Paulo VI sobre Pier Giorgio Frassati
Como ex-assistente da FUCI e próximo à família Frassati, Paulo VI teve um papel fundamental em retomar a causa de santidade de Pier Giorgio. No 7º aniversário da morte de Pier Giorgio (3 de julho de 1932), Montini refletiu:
“Como ainda podemos ser cristãos? Pier Giorgio responde com a vida… Ele era forte porque era austero. Austero e doce e vivo… da comunhão com Deus… frescor interior…”
São João Paulo II sobre Pier Giorgio Frassati
João Paulo II tinha uma admiração duradoura por Pier Giorgio, antes mesmo de se tornar Papa:
Como Cardeal, ele chamou famosamente Pier Giorgio de “Aqui está o homem das oito bem-aventuranças!”
Na beatificação de Pier Giorgio, em 20 de maio de 1990, ele ecoou esse sentimento:
“Pelo seu exemplo, ele proclama que uma vida vivida no Espírito de Cristo, o Espírito das Bem-aventuranças, é ‘bem-aventurada’…”
Ele também o descreveu como:
“o Homem das Oito Bem-aventuranças” e até mesmo “o homem do nosso século”, destacando seu amor e caridade como um farol em uma era turbulenta.
Falando aos jovens (em 5 de abril de 2001 em Roma):
“Sua existência como um jovem ‘normal’ mostra que se pode ser santo vivendo intensamente a amizade, o estudo, o esporte, o serviço aos pobres, em constante relação com Deus.”
Bento XVI sobre Pier Giorgio Frassati
Bento XVI frequentemente citava Pier Giorgio como exemplo poderoso para os jovens:
Na Audiência Geral de 5 de julho de 2006, disse:
“Que seu exemplo de fidelidade a Cristo inspire em vocês, queridos jovens, resoluções de corajoso testemunho evangélico.”
Em 4 de julho de 2007, acrescentou:
“Que seu exemplo os fortaleça… no testemunho do Evangelho em toda circunstância da vida… ofereçam os sofrimentos diários… apoiem vocês, queridos recém-casados, na construção de suas famílias…”
Em maio de 2010, descreveu Pier Giorgio assim:
“Jovem como vocês, viveu sua formação cristã com grande compromisso… testemunho de fé, simplicidade e eficácia… descubram que vale a pena se comprometer por Deus… mesmo quando isso é custoso.”
Papa Francisco sobre Pier Giorgio Frassati
O Papa Francisco tem citado Pier Giorgio em várias ocasiões:
Na sua Carta para a JMJ 2016, citou palavras do próprio Frassati (de uma carta de 1925):
“Viver sem fé, sem herança a defender, sem sustentar a verdade em contínua luta, não é viver, mas mal viver. Nunca devemos mal viver, mas viver.”
Em uma Audiência Geral de 13 de junho de 2018:
“O Bem-aventurado Pier Giorgio Frassati, que era jovem, costumava dizer que é preciso viver, e não apenas sobreviver…”
Em 2020, durante a entrega da Cruz da JMJ:
“Um jovem como vocês… disse isto: ‘Quero viver, e não apenas sobreviver.’”
Em 2022, ele incluiu Pier Giorgio entre exemplos de santidade juvenil:
Pier Giorgio exemplifica como se pode ser “um jovem, responsável, crível na fé, um crente feliz, sorridente” — um modelo para os jovens.
E durante uma saudação em junho de 2024:
Relembrando como Pier Giorgio auxiliou os pobres em Turim, Francisco disse:
“Ele não se perdeu na ‘boa vida’… nele havia amor por Jesus e pelos irmãos.”
Papa Leão XIV sobre Pier Giorgio Frassati
Ao preparar a canonização de Frassati, o Papa Leão XIV refletiu, durante a homilia da Missa pelo Jubileu do Esporte (15 de junho de 2025):
“Sua vida simples e luminosa nos lembra que, assim como ninguém nasce campeão, também ninguém nasce santo.”
Como modelo vivo para os jovens, o Papa Leão XIV exortou-os durante a Missa de Encerramento do Jubileu da Juventude (03 de agosto de 2025):
“Aspirem a grandes coisas, onde quer que estejam. Não se contentem com menos.” Ele os encorajou a olhar além de buscas superficiais e enfatizou que a verdadeira realização está naquilo que acolhemos e compartilhamos com alegria, e não no que acumulamos. Nisso, ele destacou Frassati — junto com Carlo Acutis — como exemplo por sua dedicação à caridade, humildade e alegria cristã autêntica.
É de Turim o ostensório que foi utilizado durante a Adoração Eucarística da Vigília do Jubileu dos Jovens com o Papa Leão XIV, e ele tem uma longa história. Atualmente, provém da Capela da Adoração Perpétua da paróquia de Santo Antônio Abade, na periferia norte da cidade. Anteriormente, era utilizado na igreja de Santa Maria da Praça dos Padres Sacramentinos, que, por mais de um século, zelaram pela Adoração Perpétua.
Diante desse ostensório rezaram a Jesus-Eucaristia o jovem Pier Giorgio Frassati, que será canonizado no próximo dia 7 de setembro; São João Bosco, apóstolo da juventude e fundador da Congregação Salesiana, hoje difundida por todo o mundo; São José Bento Cottolengo, apóstolo da caridade, próximo dos últimos, que deu origem a um grande número de obras caritativas em nome de Deus-Amor; São José Cafasso, definido pelo Papa Pio XI como “A pérola do clero italiano”, que dedicou toda a sua vida a confessar e formar bons confessores. Entre seus penitentes estavam justamente Dom Bosco, Dom Cottolengo e o cônego Allamano, também ele canonizado no último dia 20 de outubro pelo Papa Francisco.
Também rezaram diante de Jesus, com esse mesmo ostensório, São Leonardo Murialdo, educador da juventude operária; a beata Anna Michelotti, a serviço dos enfermos; os beatos irmãos Luigi e Giovanni Boccardo, sacerdotes exemplares; o beato Giacomo Alberione, fundador da grande Família Paulina, profeta da comunicação.
Uma multidão de santos, portanto, que nos testemunham a importância do primado de Deus e da necessidade de retornar à Adoração a Ele, reconhecendo-O vivo e presente no Santíssimo Sacramento e, por isso, amando-O nos irmãos.
Pois bem, o cristianismo de Pier Giorgio é um cristianismo dominicano e, mais particularmente, um cristianismo savonaroliano. Em que consiste isso? Poder-se-ia responder com a tese fundamental de São Tomás de Aquino, aquela que dá homogeneidade e coesão a todo o harmonioso edifício teológico de Tomás: a graça não destrói a natureza, mas a aperfeiçoa (gratia non destruit naturam, sed perficit). É a tese da validade intrínseca de toda a ordem natural da criação: a redenção não a perturba, mas a cura, a purifica, a eleva; confere-lhe firmeza e esplendor; prepara-a, fermentando-a desde dentro, para a ordem futura da glória. As coisas criadas têm valor, são um valor: são boas; projetam uma luz, são pedras de um edifício que, por virtude de Cristo e da ressurreição de Cristo, está destinado, na ressurreição final, a eternizar-se em Deus…
A essa luminosidade dominicana, o caráter savonaroliano acrescenta uma nota, por assim dizer, mais marcadamente histórica, profética, intervencionista, de certo modo até violenta: uma nota de altivez e repulsa diante da verdade ofendida! A inserção na trama dos eventos históricos – e, portanto, também sociais e políticos – torna-se viva, decidida, voltada ao futuro: torna-se um fermento que traz doçura e paz para quem o acolhe, confusão e ruptura para quem o rejeita. Aliás, não é essencial ao cristianismo ser esse sinal de contradição, portador de paz para uns e de repulsa para outros? Signum cui contradicetur…”**
— Da prefação de Giorgio La Pira ao livro “O compromisso social e político de Pier Giorgio”, de Luciana Frassati.