Liturgia das Horas do beato Pier Giorgio Frassati

A Liturgia das Horas (também chamada Ofício Divino) é a oração pública e comunitária oficial da Igreja Católica.

A palavra ofício vem do latim “opus” que significa “obra”. É o momento de parar em meio a toda a agitação da vida e recordar que a Obra é de Deus.

Consiste basicamente na oração quotidiana em diversos momentos do dia, através de Salmo s e cânticos, da leitura de passagens bíblicas e da elevação de preces a Deus. Com essa oração, a Igreja procura cumprir o mandato que recebeu de Cristo, de orar incessantemente, louvando a Deus e pedindo-Lhe por si e por todos os homens.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Liturgia_das_Horas

Liturgia das Horas em Honra do Beato Pier Giorgio Frassati

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Capela na Duomo de Torino onde se encontram as relíquias de Pier Giorgio

Carlo Acutis,um modelo para nossos jovens

Carlo Acutis,Eucaristia sua rodovia para o Céu.

Em 12  outubro de 2006, Carlo Acutis tinha 15 anos de idade e sua vida se apagou por uma agressiva leucemia. O adolescente,   oriundo de Milão, comoveu familiares e amigos ao oferecer todos os sofrimentos de sua enfermidade pela Igreja e pelo Papa.

“Eucaristia: Meu caminho para o céu. Biografia de Carlo Acutis” é o título do livro escrito por Nicola Gori, um dos articulistas de L’Osservatore Romano, e publicado pelas Paulinas na Itália. Carlo tinha uma verdadeira devoção a Eucaristia chegando a elaborar o site: www.miracolieucaristici.org

Carlo “era um adolescente de nosso tempo, como muitos outros. Esforçava-se na escola, entre os amigos, era um grande apaixonado por computadores. Ao mesmo tempo era um grande amigo de Jesus Cristo, participava da Eucaristia diariamente e se confiava à Virgem Maria, era devoto do beato Pier Giorgio Frassati – www.piergiorgio.com.br –  Depois de sua Primeira Comunhão, nunca faltou à celebração cotidiana da Santa Missa e da reza do Terço, seguidos de um momento de Adoração Eucarística”.

“Com esta intensa vida espiritual, Carlo viveu plena e generosamente seus quinze anos, deixando em quem o conheceu um profundo sinal. Era um adolescente especialista em computadores, lia textos de Engenharia de Informática e deixava a todos estupefatos, mas este dom o colocava a serviço do voluntariado e o utilizava para ajudar seus amigos”.

“Sua grande generosidade o fazia interessar-se por todos: os estrangeiros, os portadores de necessidades especiais, as crianças e os mendigos. Estar próximo a Carlo era esta perto de uma fonte de água fresca”.

Recorda-se claramente que “pouco antes de morrer Carlo ofereceu seus sofrimentos pelo Papa e pela Igreja. Certamente o heroísmo com a qual confrontou sua enfermidade e sua morte convenceram a muitos que verdadeiramente era alguém especial. Quando o doutor que o acompanhava perguntava se sofria muito, Carlo respondeu: ‘Há gente que sofre muito mais que eu!”.

“Fama de santidade”

Dra Francesca Consolini, postuladora para a causa dos Santos da Arquidiocese de Milão, acredita que no caso de Carlo há elementos que poderiam levar a abertura de um processo de beatificação, quando se fizerem cinco anos de sua morte, como o pede a Igreja.

“Sua fé, singular em uma pessoa tão jovem, madura e segura, levava-o a ser sempre sincero consigo mesmo e com os outros. Manifestou uma extraordinária atenção para o próximo: era sensível aos problemas e as situações de seus amigos, os companheiros, as pessoas que viviam perto a ele e quem o encontrava dia a dia”, explicou Consolini.

Carlo Acutis “tinha entendido o verdadeiro valor da vida como dom de Deus, como esforço, como resposta a dar ao Senhor Jesus dia a dia na simplicidade. Queria destacar que era um moço normal, alegre, sereno, sincero, que amava a vida, que gostava da amizade”.

Carlo “tinha compreendido o valor do encontro cotidiano com Jesus na Eucaristia, e era muito amado e procurado por seus companheiros e amigos por sua simpatia e vivacidade”.

“Depois de sua morte muitos sentiram a necessidade de escrever uma própria lembrança dele e outros comentaram que vão pedir sua intercessão em suas orações: isto fez com que sua figura seja vista com particular interesse” e em torno de sua lembrança está se desenvolvendo o que se chama “fama de santidade”. Em 2011 será o quinto aniversário de sua entrada no Paraíso é o momento em que a Igreja  de Milão estará abrindo o processo de beatificação.

Para Eduardo Henrique, Assistente Social da Faculdade Santa Marcelina, “Carlo Acutis é um  verdadeiro santo! Um modelo para todos nós. Um adolescente que nos deixou um valioso legado; o amor pela vida, a alegria de viver e a coragem de ser fiel a Deus em todos? os momentos”.

www.carloacutis.com/pages/accueil.html

Um homem do século vinte

Padre Ceslao Pera, o.p.

No velho registro do convento de São Domingos em Turim se lêem estas palavras no epitáfio de monsenhor Tommaso Giacomelli, dominicano pineroles, falecido bispo de Toulon em 1569:

« Sed felix patriae, mutatio, patria namque

cui pes montis erat, mons Deus est pátria

Essa visão do Piemonte místico me veio após ter lido a crônica da semana da paixão de Pier Giorgio Frassati onde, através do relato dos fatos, se escuta o esvoaçar o espírito que ultrapassa transfigurado a fronteira terrena e perdura radioso na memória da historia:

« É feliz transformação de pátria, porque

para quem pátria era o Piemonte, o monte Deus é pátria. »

Considere-se aquele repetido gesto de Pier Giorgio que pega a Vida de Santa Catarina e lê a quem o visita uma página onde está descrita, com a experiência da Paixão de Cristo, a elevação mística da santa às alturas da divina essência…

Para o espírito de Pier Giorgio, que meditou este fato carismático em suas horas de Getsemani, permaneceu um sinal indicador de seu itinerário, na linha de crescimento de cada alma cristã.

Isso é tão mais significativo quanto mais complexa é a simplicidade linear deste ingênuo da montanha e do espírito: a coerência segura dos turrões bieleses (N.T.: natural da cidade de Biela) se transfigura em fortes resistências psicológicas; o desumano cansaço dos elevados estudos universitários não encobre a fina ponta de seu espírito, forjada pela chama ardente de uma caridade operosa; as doces comodidades de uma vida civil, que na alta burguesia piemontesa lhe assegurava honras e favorecimentos, nem deprimem seu espírito com o ilusório compromisso, nem destroem seu ardor através do prazer fácil.

Outro ponto a se meditar: existe uma «estrada eminente” que o cristianismo abriu para os homens no tocante a ir para a eternidade gloriosa. Todas as outras estradas pelas quais podem os homens caminhar: arte e cultura, ciência e tecnologia, industria e comercio, se não querem se tornar um labirinto, mas um desenvolvimento ordenado de perfeição verdadeiramente digna do homem, deste fato radicalmente novo terão que receber um novo sentido de orientação que redobra, por assim dizer, o seu valor e, retificando-o, multiplica seus desenvolvimentos progressivos.

Pier Giorgio compreendeu muito bem esse significado divino da vida e com todo seu ardor juvenil entrou na «eminente estrada” da caridade, tornando-se o apóstolo que todos conhecem e o místico que, como já se falou anteriormente, é revelado pela leitura e pela meditação do êxtase cateriniano.

Nele se verifica a transfiguração à qual se refere o epitáfio de mons. Tommaso Giacomelli:

« para quem pátria era o Piemonte, o monte Deus é pátria ».

Não cabe a nós julgar qual grau de perfeição na caridade ele tenha atingido, mas não seria generoso e muito menos honesto quem pretendesse desprezar a excelência de sua vida cristã.

O julgamento da sanção final aguarda o legislador supremo que a si reservou tal incumbência.

O julgamento ético no que se refere à vida e à virtude exercitadas em grau heróico estão reservadas para a Igreja que como sociedade divina tem a competência necessária para indicar os heróis da virtude e da ação no que diz respeito à vida eterna.

O julgamento histórico pode ser dado por quem, estudados os fatos, os considera e avalia na trama da historia humana, onde também age o fermento cristão da nova vida, nascida de Jesus Cristo.

Ninguém, sob esse aspecto, pode ignorar os imensos benefícios que Jesus Cristo e a Igreja distribuiram e continuam a difundir na humanidade peregrina.

Agora a vida de Pier Giorgio preenche os primeiros vinte e cinco anos do nosso século (6 de abril de 1901 – 4 de julho de 1925) e todos sabem das lutas e ansiedades de tal período. Não se diz nada novo, afirmando-se que o processo de desmoronamento espiritual alcançou a ultima pedra do edifico cristão, correspondente ao ultimo parágrafo do Credo: « Eu creio… a vida eterna ».

Na confluência dos múltiplos endereços teóricos e práticos, que com mais ou menos enfase tendem a encontrar um sentido para a vida descoroada de seu valor supremo, privada de seu sentido divino, dessacralizada em seu conteúdo real, Pier Giorgio representa o homem do século vinte que aponta a solução certa: a caridade que nos faz amigos de Deus é a perfeição da vida humana. Através dela, a vida reencontra seu valor supremo, seu sentido divino, sua consagração.

Prevalecendo o sentido econômico da vida, sob o constante impulso das necessidades primordiais, teorizadas de forma a restringir sempre mais os horizontes do espírito e eliminar as paisagens abertas da eterna luz, Pier Giorgio se mostra como aquele que pensa e opera na liberdade e na soberania do espírito.

Por um lado, golpeando o jugo da riqueza, liberta-se da aparência falsa do compromisso burguês e imprime à sua vida um impulso generoso livre de qualquer egoísmo.

Por outro, servindo-se da riqueza não para satisfação de seus caprichos ou de suas exigências primordiais, mas para fazer o bem sempre, em qualquer lugar, a todos os necessitados, ele proclama em voz alta que a verdadeira felicidade está em outro lugar e que a verdadeira ascensão da comunidade, se não se quiser que seja um blefe, mas sim uma realidade operante, tem seu empurrão inicial não de baixo onde se agitam os instintos mas do alto onde brilha a luz.

Ele não traduziu em teoria a narração da pobreza e riqueza, mas apresentou uma norma na qual cada um pode ler o grande ensinamento que enquanto libera o espírito da escravidão da matéria e da prepotência, assegura às forças do espírito o triunfo sobre a ambição dos grandes e sobre a sedução do ouro.

Porque integralmente cristão, Pier Giorgio não teve medo das palavras de Jesus (Mt 19,24): «…é mais fácil que um camelo passe pelo buraco de uma agulha que um rico entre no reino de Deus». Por isso viveu alegremente, fazendo o bem e praticando perfeitamente o ensinamento sagrado….

A quem nos acusa de desprezar as coisas da terra em detrimento ao Paraíso ou de anestesiar as pessoas com o narcótico da vida eterna, Pier Giorgio responde com a sua vida que elimina por si só cada amor desordenado pela riqueza e afirma com ênfase o bom uso da criação. Nisso se sente a influencia e se descobre a marca da sublime ascese inaciana que sobre esse principio fundamenta cada posterior perfeição ética, enquanto a chama de seu coração retira alimento vital do calor familiar de são João Bosco.

Através dessa atividade de forças convergentes à atuação da perfeição humana sob a luz de Jesus Cristo, Pier Giorgio mesmo sendo moderno, acaba por sentir-se à vontade com os medievais e, na vida moderna, traduz com eficácia a síntese harmoniosamente fecunda deles, onde desaparecem as distancias e as divergências e, no reflexo da luz eterna, o espírito cumpre seu itinerário místico.

Introdução ao volume de Luciana Frassati, Pier Giorgio Frassati. Recordações, testemunhos e estudos, «Mihi testes», Edições Studio Dominicano, Bolonha, 1985.

Anotações para um panorama

Luciana Frassati

Um personagem sem lampejos. O romantismo nos acostumou aos gestos absolutos, à retórica do heroísmo moral e espiritual. O cinza no entanto é a cor de hoje. E o cinza por fim torna-se esplendido, como o cansaço constante de um operário ou, no seu caso, a obra tenaz de sua caridade.
As suas cartas, imprevisíveis. Mais uma vez, para certos versos é inútil colocar na cabeça o absoluto do texto. A desesperada afirmação de católica felicidade: “ Não posso não ser feliz”. É difícil resistir a certas cartas.
E por fim, nos erros resulta um estilo, ainda mais que isso, um tipo de colóquio, uma voz. Sente-se um arrepio porque o contato é direto: pele com pele.
É mais difícil esconder a caridade do que fazê-la.
Os rostos estupefatos de quem não sabia nada e se encontrou diante de seu funeral. Talvez, por um instante, alguém pensou que toda aquela gente foi ali chamada por um sobrenome. E, no entanto, o foi por um nome.
E seu dinheiro? Todo o dinheiro que distribuiu para os pobres e amigos de Turim?
É, segundo o que penso, o grande mistério de sua vida. Como na multiplicação dos pães: centavos em liras. Dezenas e milhares.
Suportar a mediocridade. A pior mediocridade é a de quem não a admite ou não a percebe. Suportar aquela. Para mim, sua vida já está concluída.
Quem o fez fazer? Quem sabe quantos já fizeram essa pergunta. Eu mesmo. Parece uma veia aberta, uma festa. Todavia, eis aqui. Compreendido isso, estamos com um bom caminho andado.
Talvez o tenha feito por todos aqueles com quem conviveu: mãe, pai, irmã, amigos. Uma decisão lógica, talvez, mais sólida que uma vocação.
Como é difícil parecer um dos muitos e ser um dos poucos!
Foi um erro realçar seus gestos, deixando em silencio sua alma.
Não se pensou que a “mãe de Pier Giorgio” tinha naquela época muitas rivais. Entre as quais a “mãe de Mussolini”.
Uma profunda prova de confiança na vida: cantava, mesmo sendo assustadoramente desafinado.
É fácil esquecer um amor verdadeiro; difícil um falso, impossível um errado e solitário.
Compreendia e perdoava sempre. Deus nos ajude a fazer isso uma vez ou duas pelo menos em nossa vida.
Era tão pouco burguês que não se preocupava com a miséria, a sujeira, a crueldade e hipocrisia dos pobres.
O silencio diante do sofrimento e da morte, todos temos em mente, poucos na fala e nas ações. E isso me fez parecer vil a ponto de ressurgir (por aquele preciso instante que dura a ressurreição de um homem normal) diante da história de sua morte.
Estamos na mesma. Também com relação a ele os homens confundiram inocentemente humildade com pobreza de espírito, doçura com demência.
Foi uma agencia de colocação religiosa, com muitos clientes não religiosos.
Por que tantas agendas? Por que tantos números? Por que tantas listas de palavras iguais? Para quem eram as contas que fazia todos os dias?
Eis o diário que instrui os fatos de uma alma.
Foi feliz alguma vez? Esta pergunta angustia fatalmente, no decorrer de sua vida.
Todas as suas energias, todos seus modos de ser estavam tão voltados e dedicados aos outros, que eu penso a sua felicidade como sendo sua existência.
Uma felicidade exaustiva, que previa naturalmente a felicidade da não existência, a morte e Deus.
Apenas uma barreira para mim: a montanha. Eu não a compreendo, como não enxergo à noite. E então surgem também certas interpretações de ascensão, de subir na direção de Deus.
Na direção de Deus se sobe, sabia-o bem, também descendo na mina. Se todas as subidas fossem elevações!
Não tinha medo de nada, nem mesmo do medo.
Falem-me um pouco da morte, mas não assim. Calmos, tranqüilos, como se falassem de flores ou de coisas insignificantes, assim como ele fazia, sem esforço… Então, compreendido agora que é impossível?

Extraído de Luciana Frassati, Vida e imagens, Sigla Effe, Genova 1959.

Pier Giorgio, um modelo que os jovens do Brasil precisam conhecer

Denise Farina

Descobri Pier Giorgio quando visitava minha filha, estudante do Polito, em Torino. Numa manhã, fui sozinha à Basilica do Santo Sudário e me deparei com seu pequeno altar. Nada sabia dele e fui surpreendida por aquela imagem tão bela, tão jovem, tão ativa e tão distante das imagens de contemplação e sofrimento que costumamos ver atribuídas aos santos. Posteriormente, falando com moradores locais e pesquisando na Internet fui sabendo mais deste Beato quase desconhecido aqui no Brasil e penso ter retornado com Pier Giorgio já internalizado como um exemplo a ser sempre lembrado.
Tempos mais tarde, minha filha atravessou um período difícil em seus estudos. Daqui do Brasil, pouco podia fazer para ajudá-la além do parco consolo de algumas conversas pela Internet. Ela parecia já estar desistindo diante do que acreditava serem dificuldades intransponíveis e então pedi para que confiasse em Pier Giorgio que, assim como ela, foi atleta e estudante do Polito e cujos restos repousavam a poucas quadras de onde ela estava morando. Minha filha nunca confiou em preces, mas ainda assim nossas conversas geralmente terminavam com uma lembrança a Pier Giorgio e, daqui do Brasil, eu fazia o pouco que podia para ajudá-la e orava para ele.
Ontem minha filha nos ligou eufórica: não só foi aprovada como, para sua absoluta surpresa, recebeu uma das melhores notas do grupo. Passou a confiar em Pier Giorgio e deverá ir à Basílica agradecer pessoalmente a ajuda, creio que ainda hoje.
Escrevo esta mensagem hoje porque tenho uma segunda filha, que neste momento está em Santiago do Chile iniciando sua participação numa competição desportiva internacional. Embora já tenha pedido por ela nas preces de ontem, senti a necessidade de buscar Pier Giorgio na Internet antes de sair para o trabalho, uma forma de confirmar minha confiança nele, o Patrono dos Desportistas para o Papa João Paulo II.
Continuem divulgando a vida e o exemplo de Pier Giorgio, um modelo que os jovens do Brasil precisam conhecer.

* Leitora de nosso site.

Pier Giorgio Frassati – Repercussão após sua morte

Eduardo Henrique da Silva

A impressão que tiveram em Turim, no dia dos funerais, foi que esta morte era prenuncio de uma aurora.
Seis anos são passados e a aurora não deixou de brilhar num horizonte cada vez mais vasto.
Depois que os despojos mortais foram furtados aos olhares dos seus amigos, estes voltaram desolados á igreja da Crocetta para meditar aos pés do tabernaculo as lições daquela grande vida.O pequeno grupo inicial começou a aumentar e hoje (1931) já são milhares na Itália e no mundo inteiro os que, norteados por ele, se reúnem nas igrejas e na Santa Missa.
Realmente, este morto está mais vivo que nunca!
Seu nome, agora popular, está gravado no granito e no mármore e se distende nas dobras das bandeiras gloriosas dos Círculos Católicos e das Associações Juvenis.
No dia 04 de julho de 1926, aniversário de sua morte, foi colocada uma placa de mármore na igreja da Crocetta, perto dos bancos onde costumava ajoelhar-se cada manhã. Sob o baixo relevo que o representa de perfil os paroquianos podem ler:

Pier Giorgio Frassati,
Apostolo da Caridade.
Aqui na oração e na união eucarística de cada dia,
Achou a luz e a força que o ajudaram a vencer o bom combate,
Transpor as etapas da vida, como bom soldado de Cristo.
Para lembrança e exemplo para os moços.

Um mês mais tarde, no dia 14 de agosto de 1926, um alpinista conseguiu escalar dois cumes ainda virgens, que no mássico dos Alpes se emparelham com o Ratti; e, para perpetuar, até nos vértices das montanhas, batizou-o com o nome de Pier Giorgio Frassati.
Na Piccola Casa della Providenza, sito no vasto bairro do Cottolengo, maravilha e gloria de Turim, há um grande pavilhão com 300 quartos, que tem o nome de Pier Giorgio Frassati gravado na sua fachada. (Confere em Ecos de Memória – Dois homens ardentes de amor por Jesus e pelos necessitados).
Realizaram assim o desejo que tivera de construir, á sua custa, um estabelecimento destinado a recolher os velhos doentes que, nas suas visitas aos pobres, tantas vezes vira a cargo da família.
Foi ainda para lembrar o seu amor aos pobres que no mesmo bairro onde habitara, um dispensário dirigindo pelas Irmãs de São Vicente de Paulo socorreu numerosas famílias de infelizes, e isto durante muito tempo.
Muito mais que no mármore e no bronze, porém, sua memória vive nos corações. Anualmente, o aniversário da sua morte reúne na igreja da Crocetta as multidões ávidas de ouvir falar sobre ele. Dom Cojazzi (foi o preceptor de Pier Giorgio e seu primeiro biográfo), o padre Righini, S.J., o saudoso ex-assistente eclesiástico da FUCI, Mons. Pini, o Padre Cordovani, O.P, tomaram a si esta incumbência, e os próprios arcebispos de Turim têm proposto aos jovens o exemplo e as virtudes daquele que foi um modelo perfeito. Primeiro o Cardeal Gambá, depois, no dia 04 de julho de 1931, seu sucessor o Cardeal Fossati.
Nesse dia, em todos os pontos da Itália, estudantes, rapazes dos Círculos Católicos, pessoas gradas e mesmas religiosos e religiosas, não deixam de assinalar com a comunhão o aniversário do seu natal para o céu.
A prova disto está na espantosa difusão dos “Testemunhos” recolhidos por Dom Cojazzi, e a elevação de almas que esta leitura produz parece receber a sanção do céu. É o que prova a correspondência diária da qual vamos extrair alguns trechos mais importantes.
De um rapaz: “Há quanto tempo não ia eu à missa? Há quanto tempo deixei de rezar? Nem sei. O que sei é que, longe de Deus, da Igreja e dos Sacramentos, o homem não é mais homem, é simplesmente um animal. Foi meu irmão quem me trouxe a vida de Pier Giorgio Frassati. Comecei a lê-la, página por página sem pular nem uma palavra. No fim da leitura, minha emoção chegou ao auge. Pier Giorgio era perfeito e eu estava tão longe disso! Fiz uma revisão do meu passado e não tive dificuldade em observar que antigamente era eu mais feliz. Entretanto, agora também rezo o terço todas as noites, vou à missa, aproximo-me dos Sacramentos. Tornei a achar o belo tempo da minha juventude. Lá no alto, Pier Giorgio rezou por mim:ou antes salvou-me.”
Outro testemunho.
“Só uma vez tive ocasião de o ver. Foi durante o Congresso Eucarístico de Genova, em 1923, na praça onde se reuniam os grupos de jovens, antes da procissão. Hoje lamento amargamente não ter sabido dar valor ao rapaz que eu estava cumprimentando. Quanto mais proveitoso não haveria de ser para mim o segundo encontro! Realmente, estava longe de pensar que ele viria procura-me neste cantinho obscuro da França”.
Poder-se-iam multiplicar estes fatos e citar ainda as reflexões que acompanham os donativos de esmolas à L`Stampa que sob o título de “Caridade do Sábado” faz um apelo á generosidade do público em favor dos necessitados. (Iniciativa tomada após a morte de Pier Giorgio).
Quantos benefícios espirituais ou temporais, quantas maravilhas de graça, deixam linhas como estas, apesar do véu do anonimato: “Aos pobres de Pier Giorgio Frassati, em ação de graças por um favor extraordinário alcançado…” – “Vítima de muitos infortúnios, apelei para a bondade e compaixão de Pier Giorgio e obtive a graça e consolação.” -“Pela intercessão de Pier Giorgio Frassati alcancei uma graça que há muito tempo estava pedindo a Nosso Senhor”.
É entre os jovens, como dissemos, que se manifesta melhor o impulso das almas para aquele que tanto desejou leva-las a Cristo.
No dia 06 de abril de 1931, Pier Giorgio teria trinta anos. Inúmeras foram as associações que quiseram comemorar esse dia com uma missa, comunhão e uma visita suplementar aos pobres e aos doentes nos hospitais.
“Trinta anos não é muito na vida de um homem – Dizia Dom Cojazzi aos jovens que estavam celebrando esse aniversário – e no entanto, nessa idade o jovem já tem muito encanto. Quanto a ele, que já partiu para Cristo, sempre há de ter vinte quatro anos! Na terra a juventude dura o espaço de uma manhã; só a mocidade dos que adormeceram no beijo do Senhor  é que dura eternamente!”
No cemitério de Pollone, em uma cripta de granito revestido de mármore branco, os despojos mortais de Pier Giorgio esperam a hora da ressurreição, no meio de flores que ele tanto amava e sob o olhar vigilante dos anjos de Bonozzo Gozzoli. (Hoje após a beatificação o corpo de Pier Giorgio encontra-se na Catedral de São Giovanni Batista em Turim em uma capela lateral. Na mesma catedral encontra-se o Santo Sudário).
Na lápide tumular, encimada por uma cruz, larga e sem ornato, talhada no granito de uma montanha, lê-se o seguinte:

Pier Giorgio Frassati

Com vinte e quatro anos de idade nas vésperas
De ser diplomado engenheiro, belo, robusto, alegre e estimado –
Viu chegar de improviso seu último dia – e, como fazia em todas as circunstâncias,
Saúdo-o serenamente – como o mais belo da sua existência.
Confessou a Fé pela pureza de vida e pelas obras de caridade.
A morte o ergueu como um estandarte vivo da juventude cristã.

Estandarte vivo da juventude cristã! Será que os que mandaram gravar na pedra estas palavras de sentido tão profundo suspeitavam até que ponto a fama ia confirma-las?
Em todo caso, raras profecias foram tão bem realizadas.
Um dia Dom Cojazzi respondeu a um jovem que lhe perguntou ingenuamente por que razão Pier Giorgio parece mais vivo que quando estava na terra:
“Porque a vida dele nos ajuda a compreender a palavra do Evangelho: Aquele que ama a sua vida perdê-la-á; o que a perder neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. Como o jovem do evangelho que oferecendo alguns pães, conseguiu alimentar uma multidão, Pier Giorgio, oferecendo a Crista à riqueza, a juventude e a vida, continua mesmo morto a multiplicar seus favores no coração do povo”.
Mais do que nunca, o facho está firme no candelabro e cada vez mais aumenta o facho de luz que o envolve. Sobre Pier Giorgio paira a divina promessa feita ao justo que viveu de fé: “Embora morto, ele fala sempre!”.

* Informações retiradas do livro:
Pier Giorgio Frassati
P. Marmoiton S.J.
Edição Cruzada da Boa Imprensa
Rio de Janeiro -1935

** Eduardo Henrique da Silva é responsável pelo site de Pier Giorgio Frassati no Brasil.
Leigo Domenicano, profundo conhecedor e entusiasta de Pier Giorgio.

Ser cristão significa ir contra a corrente, recorda o Papa

Pier Giorgio e Luciana Frassati

Osservatore Romano (Colab. Lucas Evyatar)

Durante um discurso dirigido ao meio-dia na Sala Clementina a uma delegação da Federação Universitária Católica Italiana (FUCI), o Papa Bento XVI recordou que ser cristão no mundo de hoje implica ser contracorrente. Em seu discurso o Pontífice elogiou a FUCI por ter contribuído “à formação de inteiras gerações de cristãos exemplares, que souberam traduzir o Evangelho na vida e com a vida, comprometendo-se no âmbito cultural, civil, social e eclesiástico”. A respeito recordou os beatos Pier Giorgio Frassati e Alberto Marvelli, assim como aos políticos italianos Aldo Moro (grande admirador de Pier Giorgio)  e Vittorio Bachelet, vilmente assassinados” e a Paulo VI, “que foi assistente eclesiástico central da FUCI nos difíceis anos do fascismo”. O Santo Padre destacou também “o testemunho convincente da ‘possível amizade’ entre a inteligência e a fé, que suporta o esforço incessante de conjugar a maturidade na fé com o crescimento no estudo e a aquisição do saber científico”. Bento XVI destacou que “o estudo é, ao mesmo tempo, uma oportunidade providencial para avançar pelo caminho da fé, porque a inteligência bem cultivada abre o coração do ser humano à escuta da voz de Deus, evidenciando a importância do discernimento e da humildade”. “Tanto hoje como no passado, quem quer ser discípulo de Cristo está chamado a ir contracorrente” e a não deixar-se influenciar por mensagens que convidam “à prepotência e à conquista do êxito com todos os meios”. Depois de destacar que na sociedade atual existe “uma corrida às vezes desenfreada à aparência e ao desejo de possuir em detrimento, por desgraça, do ser”, o Santo Padre assegurou que “a Igreja, mestra em humanidade, não se cansa de exortar especialmente às novas gerações, às que pertencem, a estar atentas e a não temer na hora de decidir caminhos ‘alternativos’ que só Cristo sabe indicar”. “Jesus chama a todos seus amigos a modelar sua existência de um modo sóbrio e solidário, a estabelecer relações afetivas sinceras e gratuitas com outros. A vós, jovens estudantes -concluiu-, pede-lhes lhes comprometer honestamente no estudo, cultivando um sentido de responsabilidade amadurecido e um interesse compartilhado pelo bem comum. Que nos anos da Universidade ofereçam um testemunho evangélico convencido e valente”.

Osservatore Romano 09.11.2007
* Colaboração Lucas Evyatar (*1976-2008)
Jovem de origem judaica depois convertido e grande admirado da figura de Pier Giorgio.

Carta convite à celebração do aniversário de Pier Giorgio

Associazione Pier Giorgio Frassati
Roma

“Eu tenho certa predileção pelo Apóstolo da Caridade”.”
Pier Giorgio

(de uma carta a Marco Beltramo
25 de março de 1925)

Para as Associações, Oratórios,
Escolas e Grupos dedicados a Pier Giorgio Frassati;
Àqueles dedicados ao ministério com os jovens;
Às confrarias, aos seminários, aos institutos,
Para todas as comunidades religiosas,
Para todos os amigos de Pier Giorgio.

Mihi vivere Christus est. Filipenses 1 :21

Caros Amigos,

Essas  palavras de São Paulo personificam Pier Giorgio. Sendo assim, neste ano dedicado a São Paulo, nosso presente para o aniversário de Pier Giorgio não poderia ser outro que não a honra a esse grande Apóstolo, a quem ele amou apaixonadamente. Sua irmã Luciana, no livro “A Fé de Frassati”, testemunhou: “Pier Giorgio sempre levou São Paulo consigo num livro de bolso; foi o São Paulo de que Pier Giorgio copiava reiteradamente as passagens à mão; eram as palavras do Apóstolo da Caridade que ele repetia nas ruas ou lia aos amigos de quarto; foi tal Apóstolo que ele recomendou com entusiasmo como um indiscutível parâmetro para a vida cristã. Não é difícil, portanto, imaginar a alegria que Pier Giorgio sentiria ao receber este presente no seu aniversário: a meditação das cartas de Paulo e nosso compromisso para convencer mais dois amigos a fazerem o mesmo.

Nós tivemos uma graça pelo fato de que o padre Thomas Rosica, CSB, CEO, presidente da “Rede Católica de Televisão Sal e Luz” do Canadá , ter composto uma novena que constitui um verdadeiro itinerário para ação e meditação dos ensinamentos de São Paulo. Começando no da 28 de março, vamos procurar encontrar tempo todos os dias para ler e refletir as epístolas recomendadas pela novena. Vamos pedir ao nosso Amigo Bem-Aventurado para nos ajudar a entender o sentido das cartas, de encontrar o poder de transformar nossas vidas e proclamar que nós queremos viver, e não apenas fingir que vivemos, já que Mihi vivere Christus est.

Vamos pedir a Pier Giorgio que nos ensine a amar com sua força e seu amor; vamos pedir-lhe especialmente, no dia 6 de abril, o seu aniversário, quando nós estivermos todos unidos espiritualmente adorando a Fonte do Amor: a Eucaristia. Nós também poderemos oferecer presentes a Pier Giorgio todos os pequenos gestos que podemos fazer durante a novena. Que ele possa alegremente apresentá-los a Jesus.

COMO PARTICIPAR:

Aqueles que desejam participar dessa iniciativa podem adicionar seus nomes  na lista,  enviando-os por email  para info@tipiloschi.com. Apenas apresente seu nome ou de seu grupo, a cidade e o país de origem. Como nos anos anteriores, todos os participantes serão listados no website dos Tipi Loschi (www.tipiloschi.com) onde poderão também fazer o download, em várias línguas, para o seu uso, do texto da novena.

Feliz Aniversário, Pier Giorgio!

Nicolò Anselmi
(Italian National Youth Ministry)

Wanda Gawronska
(Associazione Pier Giorgio Frassati)

Marco Sermarini
(The Tipi Loschi Society of Blessed Pier Giorgio Frassati)’

19 de Março de 2009.

Clique aqui para ver o texto da novena.

Dois homens ardentes de amor por Jesus e pelos necessitados

Domenico Nicodemo

Era a Primavera de 1925 quando Pier Giorgio Frassati, com apenas 24 anos, a dois passos da morte, veio a exclamar: “O dia que for mais velho e puder fazer o que quero, farei como fez Cottolengo. Vou querer ajudar todos os pobres e crianças que vivem na necessidade.”

Pier Giorgio consumiu sua exuberante juventude no amor por Jesus, pelos necessitados e pelas montanhas. Hoje seu nome, que encerra uma das mais límpidas experiências do Evangelho, é um dom que o Espírito concedeu e concede a toda a Igreja.

No fim do mês de julho de 1925, o senador Frassati, ainda abalado pela perda do filho, veio à Pequena Casa. Queria erguer e dedicar um edifício em memória de Pier Giorgio. Ouviu como resposta que no Cottolengo os edifícios se dedicam apenas aos santos. Intervém o cardeal Gamba, arcebispo de Turim: “o beato Cottolengo e Pier Giorgio, dois grandes amigos dos necessitados, dois santos … Ficam bem juntos !”

Os escritores, ao descrever a luminosa experiência de amor de Pier Giorgio, muito oportunamente, evidenciaram o seu exercício de caridade no âmbito da Conferencia de São Vicente, mas deixaram na penumbra seu serviço de voluntariado dentro da Pequena Casa. Parecia estranho a eles que um jovem como Pier Giorgio, para quem humanamente nada faltava, pudesse se interessar por problemas existenciais dos hóspedes do Cottolengo. Uma busca mais aprofundada mostra bem o contrário.

Ernesto Atzori, um seu amigo e companheiro de estudos, relembrando esse serviço de voluntariado depõe: “Sua caridade não se limitava a procurar as ocasiões individuais para exercitar-se, mas de bom grado utilizava o momento e os lugares onde a massa sofria.”

Subir as escadas que levam a um covil, pode custar um esforço ainda de não indiferença, mas no fundo, no caráter privado e limitado do gesto, está contida a explicação do porque este se possa cumprir. Ao contrario, passar de cama em cama, de uma doença para outra, de uma angustia para outra, e isso regularmente, muitas vezes ao mês, em todas as estações, no verão como no inverno, como fazia Pier Giorgio, não é coisa simples. Ele levava ao Cottolengo amigos e amigas, para dividir com os outros a alegria desta descoberta de repartir e amar.

Comentando essas experiências, Pier Giorgio afirmava: “Uma visita ao Cottolengo faria bem a todos os homens”. E acrescentava: “Através do Cottolengo seria fácil para qualquer um compreender bem os valores autênticos da vida, deixando de fora cada abandono inconsciente à existência de todos os dias.”

Mario Ghembera, outro estudante voluntário, lembra que “o destino preferido das saídas de Pier Giorgio era o Cottolengo. Ele passava entre os corredores com zelo vigilante e seguro, consolando, parando de bom grado para conversar com os doentes, como se fossem verdadeiramente irmãos, como os chamava, beijando-os como aos mais caros amigos.”

Rina Reynaud conta um de seus encontros casuais com Pier Giorgio, na rua da Consolata: “Quer vir comigo? Vou ao Cottolengo… Poderia me dar uma mão!”

Rina ficou surpresa quando viu que os hóspedes da Pequena Casa acolhiam Pier Giorgio como a um amigo e quanto conforto tinham com sua presença”. Voltando à suas respectivas casas, Rina descobriu uma dimensão nova sobre esse prestativo e surpreendente jovem que era admirado pela população, particularmente estudantil, de Turim: “ Me parecia um veterano sobrevivente de outro mundo. Sobre seu vulto transfigurado havia aquela intensa luz de espiritualidade que talvez ilumine somente as criaturas mais próximas de Deus“.

Don Bernardo Ponzetto, que algumas vezes acompanhou Pier Giorgio ao Cottolengo, declara “ter ficado mais do que surpreso, admirado, pela alegria com a qual ele se aproximava dos doentes.”

Giovanni Perfece, que foi hóspede do Cottolengo por muitos anos, lembra com admiração Pier Giorgio que aparava e enxugava a baba de um menino invalido, com limitações psíquicas, cego e surdo mudo: ”Era algo excepcional ver um jovenzinho descer ao nível de tamanha miséria, com tanto zelo maternal. Infelizmente – ele acrescentava – tantos episódios de fatos estupendos foram perdidos por nós. Grande parte das irmãs que naquele tempo o conheceram na Pequena Casa já faleceram, sem nunca terem sido interrogadas.”

As experiências de Pier Giorgio como voluntário do Cottolengo são ainda lembradas por Franca Ca’ Zorzi, Francesco Ghezzi, Carlo Geomis, Francesco Foi, mas seria muito longo reproduzir suas exposições. Fecho com o testemunho do cotolenguiano irmão Fillipo Petrino, uma figura patriarcal da Pequena Casa, recentemente desaparecido, com mais de noventa anos, depois de 73 anos de vida religiosa: “ Conheci Pier Giorgio Frassati quando era superior dos irmãos enfermeiros no Cottolengo: devo dizer que observava aquele grande jovenzinho que se distinguia de todos os outros… Serio, reservado em atitudes e palavras, parecia transfigurar-se quando junto aos doentes…Tinha dentro de si o espírito do Senhor”.

“Somos todos instrumentos indignos da Divina Providência”.

Assim se lê nas anotações de Pier Giorgio para um discurso sobre caridade. A experiência cotolenguiana seguramente desenvolveu na alma de Pier Giorgio uma grande confiança na Divina Providencia. Ele se refere a cada circunstancia, cada alegria e cada sofrimento humano, também o mais dilacerante, como um desenho preciso da Divina Providencia. Em seu epistolário de cartas endereçadas a vários amigos, temos pelo menos dez referencias explicitas a esse atributo divino.

Ele, assim como Cottolengo, freqüentemente repetia: “A Providencia proverá! “

Escreve Clemente Grosso, seu coirmão da São Vicente: “ Pier Giorgio acreditava na Providencia com a força de quem se sente concretamente ajudado por um espírito superior”.

Um dia, durante um passeio pela montanha, num momento de descanso, tentou explicar da melhor forma que conseguiu ao universitário Silvio Caligaris, que queria entender a sua conduta de condivisão existencial nos desafios de todos os homens, particularmente dos menos afortunados. “A igualdade não pode vir de nós, mas de Deus, e se alguém considera cada coisa como oferecida e criada pela bondade de Deus, resulta que todos somos iguais: pobres e ricos e que a Providencia de equilíbrio, distribuindo a cada um, age a ponto de igualá-los, de forma que compreendamos felicidade e contrariedade como dadas por Deus…”.

É uma resposta de fé que tomada isoladamente, poderia dizer pouco, mas encarnada na realidade de sua experiência de amor é muito semelhante às “respostas” que o santo Cottolengo dava e dá aos problemas existenciais dos homens.

Nestes últimos anos, particularmente de 1968 em diante, centenas de jovens vêm à Pequena Casa para contestar as escolhas de nossa sociedade, mas mais ainda para experimentar sua disponibilidade concreta ao amor evangélico e, como Pier Giorgio, revigoram-se a si mesmos e na fé com a qual os doentes suportam as dores mais terríveis, redimensionando o egocentrismo inato, descobrem a perene e antiga primavera do amor de Cristo irmão universal.

“O Nosso tempo”, 3 de julho de 1977

Um profundo silêncio

Luciana Frassati

São cinquenta anos que Pier Giorgio nos deixou; todavia, meu discurso se torna sempre mais denso e vislumbra cada vez mais as nuances daquele que foi o seu. Pareceria quase orgulho afirmar isso; mas apenas após ter a ciência aprofundada e amadurecida pelo tempo, considero hoje complacentes e apressados os julgamentos dados sobre meu irmão naquele longínquo ano santo de 1925.
Hoje, de repente, no retorno deste grande acontecimento, se descobre nele o eco exultante e ao mesmo tempo meditativo que o induziu escrever: ”A paz esteja em sua alma… qualquer outro dom que se possua nesta vida é vão como vãs são todas as coisas do mundo”. Este é o leitmotiv que invade seu animo nos meses que antecederam aquele terrível 4 de julho, leitmotiv ao qual quase em contraponto ele colocava outro: “ Agora estou próximo de colher o que plantei”.
Dois meses depois já havia colhido. O que? Um funeral, se pode responder, que deu à sua humildade o tom do triunfo; mas não era que um sinal, digo melhor, um alarme, para aqueles que chegaram até a considerá-lo um pobre ser que não tinha nada de melhor para fazer do que ir à igreja todos os dias”. Aquele triunfo era um sinal de conforto e ao mesmo tempo de consternação; e não por acaso foram os pobres a revelá-lo e apenas eles, entre os quais a sua bela figura alcançava o anonimato, às vezes carregada de problemas, mas sempre atenta na participação ativa e concreta dos problemas deles.
Quais virtudes tinha então Pier Giorgio escondido de nós que nem mesmo naquele grande momento nos sentíamos aterrorizados pela avalanche da incompreensão com a qual poderíamos tê-lo sufocado se ele não tivesse estado em contato direto com uma compreensão bem superior, preparada a perdoar também a falta da nossa? Sob essa luz de misericórdia sobrehumana, Pier Giorgio teve o dom de compreender a tudo e a todos.
Nos foi dado apenas hoje conhecer aquele jovem, obscuro até julho de 1925? Parecia fácil na época descobrir a sua lealdade, sua pureza e sua coragem – mesmo nos sendo desconhecidos os vários episódios inerentes a elas – já que ele era, ouso dizer, a expressão física desses três raros dons, suficientes para catalogá-lo entre os” bons”.
Apesar de agraciado com outras benemerências, ele continuou, no decorrer destes cinquenta anos, a ser considerado tal, mas ninguém soube a que preço de solidão e tolerância do sarcasmo alheio (para usar uma palavra um pouco forte, porém orientadora), ele conquistou e teve seladas suas grandes virtudes. Portanto, apenas através do mosaico de centenas de testemunhos e sobretudo de pensamentos colhidos nas cartas, se pode compor sua verdadeira personalidade, forjada às vezes por fatores contrastantes que unidos formam um maravilhoso todo, difícil de expor de forma breve.
Nas cartas pode-se descobrir o menino, o jovem do quotidiano que, já estudante do Politécnico, não esquece, por exemplo, nas saudações, de nomear um a um os serviçais, os amigos da casa, concluindo muitas vezes seus textos com o envio de aperto de patas àqueles personagens muito próximos a ele, os animais. Ingênuas expressões de afeto, quase nostálgicas, ele expressou sobretudo na sua estada em Freiburg im Bresgau, quando, filho do embaixador da Itália em Berlim, hóspede da família Rahner , não surpreende nem a dona da casa – hoje centenária – ajudando-a a colher batatas em uma plantação longínqua da bela cidade alemã.
É mesmo das cartas que partem de um Pier Giorgio conhecido que se consegue descobrir aquele desconhecido. Nos encontramos como diante de um motor destinado apenas a tocar o chão e que improvisamente alça voo. Os voos de Pier Giorgio. Quais eram? Não certamente daquele jovem montanhês que coloca o pé em falso nas faldas das montanhas, mas de um guia seguro em direção à meta após os percalços do caminho. Ele treina para poder “no dia da colação, escalar o Cervino” ( N.T. : Cervino é um alto pico dos Alpes). A agonia, a pouco tempo de distancia do coroamento de seus estudos, que teriam permitido que ele, como engenheiro de mineração, descesse entre aqueles a quem eram proibidos auroras e crepúsculos, foi seu Cervino, seu mais alto pico “em direção à beatificação”.
A caridade assim como a fé, eram para nós como vestes dominicais: para ele foram pão diário, alimento inseparável a ponto de fazê-lo dizer: “ O que seria a fé se não fosse revestida de caridade?”. Declara em suas cartas a primeira como “única e verdadeira alegria”, mantém secreta a outra virtude e se limita quase que a concentrá-la em uma frase: “ Eu nutro uma especial predileção pelo Apostolo da caridade”. Nos perguntamos como aqueles a quem essas cartas foram endereçadas, não tiveram consciência nem por um instante de quem ele era. Como não descobriram a ingenuidade e a genialidade dos santos? A infinita modéstia de Pier Giorgio era selada com uma mordaça tão impenetrável que nem mesmo a poliomielite fulminante conseguiu despedaçar, mas apenas o grande cavalheiro que é o tempo.
E nós? Não fomos mais videntes. Poderia ter coberto as paredes com cantos de Dante, versos de Foscolo e para declamá-los usar como púlpito os pinheiros do jardim, ler São Paulo, Santo Agostinho, São Tomás, e se alguém tivesse dito que era poeta, filosofo, a resposta seria resumida a uma cordial risada. Talvez não a recebesse de mim, quando com apaixonado orgulho de colecionador, respondeu, diante da minha perplexidade sobre o valor dos minerais fechados numa vitrine: irão ao museu?
Vitrine e minerais não apenas foram aceitos pelo Politécnico de Turim, como o professor Cavinato, recebendo-os acompanhados um a um por seu nome latino, testemunhou que nunca lhe tinha ocorrido descobrir em algum de seus alunos tanta e tão diligente paixão. Pier Giorgio a colocava também nas visitas a museus, das quais restam muitos indícios em suas cartas, como o álbum de obras primas admiradas por ele. De pintura se falava em casa, mas apenas ele aprofundou-se.
O arco de sua inteligência abraçava Dante e os minerais; o arco de sua alma a humildade, a fé, e a caridade, tudo acompanhado daquela que ele considerava também virtude: a felicidade. Escrevia-me a 14 de fevereiro de 1925, de Turim:
“Queridíssima, antes de tudo obrigada pela bonita carta… você me pergunta se sou feliz; como não poderia sê-lo? Até quando a Fé me der força, sempre feliz ! um católico não pode não ser feliz : a tristeza deve ser banida das almas católicas; a dor não é a tristeza, que é uma doença pior que qualquer outra. Essa doença é quase sempre produzida pelo ateísmo; mas o objetivo pelo qual fomos criados nos indica um caminho semeado de muitos espinhos, mas não um caminho triste: esse é alegria, também através da dor.”
Sua figura, seu semblante, seu límpido sorriso eram a origem e a razão de cada consenso acima dos possíveis mal entendidos de seus contemporâneos, das mesquinhas disputas dos jovens e acabava sendo a sua vestimenta, aquela mesmo que, ao nascer no sábado santo de 1901, lhe foi predestinada chamando-o “o menino da festa”.

“Ripresa”, 15 de julho de 1975

* Luciana Frassati Gawronska, (*1902 +2007)

Formada em Direito, escritora e poetisa. Entre seus livros destacam-se as biografias de Pier Giorgio o qual era seu irmão.
Amiga de todas as horas, grande incentivadora do processo de beatificação.
Casou-se com diplomata polonês Jan Gawronska em 1925. Vivenciou o drama da Segunda Guerra Mundial o qual relata em seu livro: O Destino passa por Varsóvia . Teve seis filhos entre eles: o jornalista Jas Gawronska e Wanda Gawronska, presidente da Associação Pier Giorgio Frassati de Roma.

Luciana Frassati Gawronska, (*1902 +2007)