O meu Pier Giorgio

Gustavo Luigi Furfaro

Profética soa a frase que se lê sobre o túmulo de Pier Giorgio: “Por que procurais entre os mortos aquele que está vivo?”
Assim como foi a intuição da mãe, Adelaide Ametis, pintora famosa, que quis circundar o caixão de Pier Giorgio com painéis, pintados por ela, nos quais, como que em um simbólico jardim, pintou um ornato de flores e interpretou-o com os dizeres evangélicos das Bem-aventuranças: ao lado de um grande maço de lírios, escreveu: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus”; no painel rico de rosas e flores variadas, escreveu: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus”; no painel decorado com humildes flores, escreveu: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque serão chamados filhos de Deus”.
No breve espaço de 24 anos, soube testemunhar com intensidade de obras e com heroicidade, que a santidade é patrimônio de cada condição, mesmo lá onde as premissas não parecem ser tão favoráveis. Não teve, seja na família, seja na escola, seja na sociedade que freqüentou, aqueles que poderíamos definir como “pedestais” sobre os quais construir a santidade, como encontra-se em tantas biografias de santos. Em uma plena e sofrida correspondência à ação da graça, que forma o tecido potente de sua construção, soube criar sozinho os degraus para subir, traçar sozinho os seus caminhos. Sabia em quais fontes alcançar o material de construção: na casa de Deus a palavra orientadora, o pão que dá a força, a vigilante presença materna: palavra, pão, presença das quais fazia-se portador pelos caminhos do mundo.
Em um contexto comum a tantos jovens de então, assim como de hoje, levou uma vida não muito comum em certos aspectos. Podem variar as circunstâncias e as situações, não mudam muito as dificuldades a serem superadas. Foi intuição e mérito saber orientar o passo, em seu ambiente, para que a vida tivesse um significado. Revela-nos isso em uma carta a um amigo: “Viver sem uma fé, sem um patrimônio para defender, sem sustentar a verdade em uma luta contínua, não é viver, mas ‘ir vivendo’. Nós não podemos nunca ‘ir vivendo’, mas viver!”
Mesmo que fosse somente essa a sua mensagem, já teríamos algo para o qual sermos atraídos pelo exemplo. Como ideal pode ser assumido por todos: por quem tem vinte anos e por quem tem muito mais. Pode ser uma admoestação e um estímulo para o leigo e para o consagrado; por quem tem grandes capacidades e por quem entende valorizar até mesmo um único talento; para quem tende à ação e para quem, todavia na forçada inércia, tem entre as mãos uma enorme potência redentora. Pier Giorgio é de uma surpreendente atualidade: não é um santo “de altar”, é companheiro de caminhada.
Falando dele surpreendemo-nos a usar uma terminologia atual: falamos de família em crise, de escola em agitação, da sociedade em evolução com os ricos demais e os extremamente pobres, de associacionismos que empenham ou então falem, de amizade que eleva ou degrada, de tempo livre que constrói ou destrói. Em sua vida existem todos esses elementos: nele descobrimos as soluções positivas.
É por esse motivo que o sentimos tão próximo, o nosso orar não é tanto uma súplica, mas um diálogo com ele, que ainda nos fala através das numerosas e reveladoras cartas e através dos exemplos, para aprender de sua “sabedoria de Deus”, acolhida e cultivada na união com Cristo palavra e pão, ainda antes que na “ciência de Cristo”; para aprender uma via que se torne testemunho de cada dia e força transformadora da realidade cotidiana.
Foi saldo na fé e operoso no amor. Quanto mais aprofunda-se, não somente o conhecimento de sua vida, mas sobretudo a profundidade dos seus sentimentos, tanto mais se sente a atração desse jovem e, em sua companhia, parece que avançamos mais seguros, mais serenos, mais generosos, como acontecia nos tempos de suas memoráveis excursões e passeios nos campos.
Foi um magnífico “lutador paulino”, um autêntico contestador que sofria as conseqüências na própria pele, porque contestava por amor, nunca por aversão ou por rancor. Combateu para construir, nunca para destruir; lutou para edificar, nunca para abater. E quem contesta e sofre na pele as conseqüências tem algo de heróico, algo daquele heroísmo evangélico que Jesus nos apresenta em sua vida e em sua palavra.
Lutou, contestou, sofreu as conseqüências na família, na sociedade, nas associações, na política, com os amigos, na escola. Simpáticas foram também suas vicissitudes na escola: era o aluno Frassati, não o filho do senador, que era julgado como promovido. A sua trajetória escolar não foi fácil e, talvez, não compreendida: também aqui lutou e sofreu na própria pele se, aos 24 anos, encontrou-se concluindo o Politécnico, não fácil, depois de ter feito 31 exames. Faltavam-lhe ainda dois exames para fazer e também a tese, na qual já estava pensando. O último exame seria em 4 de maio de 1925: tecnologia minerária, o ideal contrastado do seu futuro. Não pode fazê-lo: durante dois meses lutou e sofreu as conseqüências na própria pele também na morte. Paradoxalmente podemos dizer que teve tal destino também nos alternados acontecimentos do processo de beatificação e na própria morte subverteu as leis da dissolução.
E tudo foi sempre com um sorriso nos lábios, mesmo que se por dentro – e as cartas o confirmam em vários pontos – tumultuava a tempestade no mar e de vez em quando brotavam algumas lágrimas. Na própria morte respondeu com o sorriso (após 56 anos!) a quem dele se aproximou. Sobre ele muita coisa foi escrita: são mais de dois mil artigos de jornais e de revistas em todo o mundo sobre ele, aos quais somam-se outras publicações, comemorações… A sua figura conquistou almas de adolescentes e de homens maduros em todas as partes do mundo. À sua vida e ao seu exemplo inspiraram-se jovens que não somente quiseram conhecê-lo, mas que, no empenho de imitá-lo, realizaram também eles um empenho de santidade e agora estão a caminho da glorificação. Pier Giorgio cumpriu o empenho que o Concílio Vaticano II confia aos leigos: “A todos os leigos, portanto, incumbe o plecaro ônus de trabalhar para que o plano divino de salvação atinja sempre mais a todos os homens de todos os tempos e de todos os lugares da terra.” (LG 33).

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